No último dia de votação de um projeto que visava instituir o Dia Municipal da Democracia, o vereador Jair Renan Bolsonaro (PL-SC), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, fez declarações polêmicas a respeito da ditadura militar brasileira. Em uma sessão da Câmara da cidade de Balneário Camboriú, ele afirmou que esse período foi “a melhor época do Brasil” para a “maioria dos mais velhos”. O comentário gerou reações de outros vereadores e provocou um intenso debate sobre a memória e a história do país.
A proposta do Dia Municipal da Democracia
A proposta do vereador Eduardo Zanatta (PT-SC) visava homenagear o ex-prefeito Higino João Pio, que foi assassinado durante o regime militar. O projeto simboliza um reconhecimento das dificuldades enfrentadas durante a ditadura, incluindo a repressão política e as violências cometidas contra aqueles que lutavam pela democracia. Zanatta argumenta que essa data é uma oportunidade valiosa para refletir sobre o passado e buscar ensinamentos para o futuro.
As declarações de Jair Renan
Durante a discussão, Jair Renan questionou o histórico do Partido dos Trabalhadores (PT) em relação à democracia. Ele criticou as interpretações que caracterizam o golpe militar de 1964 como uma violação da ordem democrática, afirmando que “o povo saiu às ruas pedindo que os militares assumissem o poder com medo do comunismo entrar no Brasil”. Segundo Jair Renan, a visão de diversos “mais velhos” que vivenciaram a ditadura é de que aquele foi um período positivo para o Brasil.
“Que moral vocês têm para falar de democracia? Não tem nenhuma. Eu vejo vários vereadores aqui da base do governo assinando embaixo e muitos mais velhos que acompanharam o regime. Muitos mais velhos, se você perguntar, essa foi a melhor época do país”, disse Jair Renan, desafiando seus colegas e provocando uma reação geral desaprovadora na Câmara.
As reações dos colegas vereadores
As afirmações de Jair Renan geraram um forte contraponto. O vereador Eduardo Zanatta respondeu diretamente, sugerindo que Jair renan deveria estudar melhor a história da cidade e do país antes de opinar. “O passado de Balneário Camboriú não deveria ser reescrito por quem não conhece a história da cidade e nega a história do próprio país”, enfatizou Zanatta.
Ele ainda sugeriu que Jair Renan assistisse ao filme “Higino Pio: Verdade Revelada”, produzido com recursos da Lei de Incentivo à Cultura. O objetivo é promover uma compreensão mais profunda da história da cidade e dos eventos que levaram à morte de Higino, que se opunha ao regime militar.
Outro vereador, Marcos Kurtz (Podemos), também interveio, enfatizando que a discussão deveria focar na importância da democracia, não na política atual. “Aqui, a nossa ideia é homenagear e acredito que todos nós vereadores, inclusive você, somos a favor da democracia”, declarou Kurtz, reiterando a necessidade de respeitar e celebrar a memória de quem sofreu na luta contra a ditadura.
O cenário atual e a memória histórica
Este episódio reflete uma divisão ainda presente na sociedade brasileira sobre o legado da ditadura militar. Enquanto alguns segmentos da população e políticos a celebram, muitas vozes clamam por um reconhecimento mais honesto e crítico das violações de direitos humanos que ocorreram durante aquele período. A retórica de Jair Renan se alinha a uma tendência de revisionismo histórico que pode ser vista em diferentes esferas da política brasileira, gerando debates acalorados sobre o que realmente significa viver em democracia.
À medida que o Brasil avança em sua jornada democrática, é crucial que a sociedade continue debatendo e refletindo sobre seu passado. Somente assim será possível construir um futuro que respeite os direitos humanos e a dignidade de todos os cidadãos.