A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vive uma de suas crises mais profundas. O afastamento de Ednaldo Rodrigues, após a assinatura de um acordo que alterou as estruturas internas da entidade, ressalta uma trama complexa que se estende por quase oito anos. Esta narrativa é marcada por denúncias de corrupção, embates judiciais e uma luta constante pelo poder entre os bastidores da CBF.
O início do tumulto na CBF
A história dessa crise começa em março de 2017, quando a CBF, sob a presidência de Marco Polo Del Nero, alterou as suas regras eleitorais durante uma assembleia que contou somente com a participação das federações estaduais. Essa manobra foi rapidamente contestada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), que entrou com uma ação para anular as decisões e afastar a cúpula da CBF.
Antes que a solicitação do MPRJ fosse acolhida, Del Nero foi deposto pela FIFA em dezembro de 2017, devido a denúncias de corrupção. Coronel Nunes assumiu temporariamente o comando da confederação até que Rogério Caboclo fosse eleito em abril de 2018, conforme as regras controversas estabelecidas no ano anterior.
A anulação das eleições e o caminho conturbado de Caboclo
Em julho de 2021, o MPRJ conseguiu anular a assembleia de 2017, o que afetou diretamente a legitimidade da eleição de Caboclo. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro considerou polêmica a decisão que nomeou interventores, como Rodolfo Landim (Flamengo) e Reinaldo Carneiro Bastos (federação paulista). Contudo, a CBF reagiu rapidamente e reverteu a decisão.
Caboclo, que já enfrentava uma série de dificuldades, incluindo uma suspensão pelo Comitê de Ética da CBF por denúncias de abuso sexual e moral, foi substituído novamente por Nunes, que assumiu a presidência interina. Neste contexto tumultuado, Ednaldo Rodrigues tomou o posto de presidente interino após a decisão dos vices de Caboclo.
O acordo e o aprofundamento da crise
Durante a gestão interina de Ednaldo, a CBF estabeleceu um acordo com o MPRJ e, em 2022, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). O objetivo era realizar uma nova assembleia para alterar as regras eleitorais. Porém, o acorde gerou um racha interno, onde seus antigos aliados passaram a contestar a validade do TAC e a eleição de 2022.
Em meio a essa instabilidade, Ednaldo foi eleito como o único candidato ao cargo em fevereiro de 2022, embora sua presidência estivesse longe de ser pacífica. Acusações de irregularidades e contestações judiciais não cessaram, especialmente por parte do vice Fernando Sarney, que se opôs a Ednaldo após a substituição no Conselho da FIFA.
Os obstáculos enfrentados por Ednaldo Rodrigues
Durante seu mandato, válido até março de 2026, Ednaldo se deparou com tentativas contínuas de afastamento via judicial, além de um contínuo aumento de seus opositores. O afastamento mais significativo ocorreu em dezembro de 2023, quando a Justiça do Rio decidiu pela nomeação do presidente do STJD José Perdiz como interventor, alegando que o MPRJ não tinha o poder de interferir nas regras eleitorais.
Embora o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha reinstaurado Ednaldo por um breve período, a instabilidade política continuou. Em janeiro de 2024, um novo acordo entre as partes envolvidas surgiu, reafirmando a legalidade da assembleia de 2022. Contudo, a calmaria durou pouco, e novas suspeitas sobre a saúde de Coronel Nunes complicaram a situação ainda mais.
A ligação entre os acordos e a queda de Ednaldo
Recentemente, surgiram documentos que levantaram dúvidas sobre a saúde mental de Nunes, culminando em uma perícia que questionou a validade de suas assinaturas em acordos. Sarney aproveitou essa oportunidade para pedir a anulação do acordo e, consequentemente, o afastamento de Ednaldo. Embora Mendes tenha negado no primeiro momento, o caso foi remetido ao TJ-RJ, que optou por acatar o pedido e destituir Ednaldo.
Essas oscilações na liderança da CBF indicam que a luta pelo poder ainda está longe de ser concluída. Os bastidores a cada dia se tornam mais dinâmicos, e os próximos capítulos dessa novela prometem ser repletos de reviravoltas, enquanto as esperadas candidaturas para a sucessão começam a se desenhar no horizonte.