A tecnologia de ponta voltada para a sustentabilidade tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil, e o Web Summit Rio 2025 foi palco para a apresentação de 65 startups do segmento, um aumento de 5% em relação à edição anterior. Entre as inovações que prometem reduzir o impacto ambiental e promover um futuro mais sustentável, as cleantechs se destacam como protagonistas em busca de soluções para desafios ambientais.
Caminhos para a sustentabilidade no universo da moda
Um exemplo notável é a trajetória de Ailton Pereira, que, desde a graduação em Design de Moda, percebeu o quanto a indústria da moda é poluente. Em suas palavras, “o tingimento usa muita água e corante sintético.” Isso despertou nele a vontade de buscar alternativas para minimizar a poluição gerada pela indústria. Após descobrir a biotecnologia, ele decidiu investigar micro-organismos produtores de biopigmentos como uma alternativa sustentável ao corante convencional.
Durante seu mestrado, Pereira desenvolveu um processo inovador que utiliza resíduos agroindustriais, como soja e cevada, para alimentar bactérias e fungos, resultando na criação da startup Aiper. Desde sua fundação em 2021, a Aiper conseguiu levantar R$ 2,2 milhões em investimentos privados, prêmios e fomento científico. O diferencial da Aiper é a utilização de biorreatores, onde cada micro-organismo gera líquidos com cores específicas, que podem ser usados como pigmento natural.
Preparação para o mercado internacional
Atualmente, a Aiper está em uma fase pré-comercial, realizando testes com grandes marcas da moda antes de lançar seu produto. Em parceria com a Piet, a startup planeja debutar na Paris Fashion Week em junho, apresentando sua primeira cor. Para isso, o biocorante precisa atender a exigências rigorosas de qualidade, como resistência ao suor e a luminosidade, além de garantir que não provoque reações alérgicas.
A expectativa que Pereira tem em relação ao sucesso do produto é alta, pois já foram realizados testes que indicam bons resultados até o momento, apesar de os desafios permanecerem.
MeuResíduo: tecnologia a favor do meio ambiente
Outro destaque do evento foi a startup meuResíduo, que se tornou líder da categoria no ranking Top 100 Open Startups em 2023 e 2024. A ideia de integrar tecnologia ao descarte adequado de resíduos surgiu em 2015 na mente de Fábio Tusset. A partir de uma necessidade de automatização de coleta em sua empresa de software, Tusset viajou para a Universidade Stanford, nos Estados Unidos, para validar seu projeto e, ao retornar, fundou a meuResíduo.
Atendendo inicialmente empresas que geram, transportam ou recebem resíduos, a plataforma de Tusset oferece rastreabilidade da informação do resíduo desde sua origem até o destino final. Com mais de quatro milhões de coletas realizadas, a startup já conseguiu gerenciar a destinação final de 23 milhões de toneladas de lixo, permitindo um faturamento anual de R$ 2,5 milhões, com a meta de atingir R$ 4 milhões neste ano.
Desafios na gestão de resíduos no Brasil
O cenário de gestão de resíduos no Brasil ainda apresenta desafios significativos. De acordo com Tusset, “só 3% dos resíduos no Brasil são tratados”, ressaltando a maturação do mercado em busca de soluções tecnológicas que possibilitem a melhoria desse cenário.
Premiações e reconhecimento no evento
O Web Summit também promoveu prêmios para cleantechs que se destacaram, como o Desafio Suíço-Brasileiro de Sustentabilidade, que selecionou a Mabe Bio, além das suíças Treeless e ABB. Essas startups terão a oportunidade de participar do pavilhão suíço na COP30, que ocorrerá em Belém, fortalecendo ainda mais a presença das iniciativas sustentáveis no cenário internacional.
Com iniciativas como as da Aiper e da meuResíduo, o Brasil se posiciona como um polo de inovação em cleantechs na América Latina, criando novas perspectivas de desenvolvimento sustentável e reafirmando o potencial do país em liderar o caminho para soluções que minimizem o impacto ambiental e promovam a responsabilidade social nas indústrias.
