Nesta sexta-feira, o presidente Donald Trump anunciou uma terceira operação fatal contra embarcações suspeitas de contrabandear drogas na Venezuela. As ações, que mataram o que Trump chamou de três “narcoterroristas”, seguem dois outros ataques no início do mês. No entanto, especialistas afirmam que essa abordagem é ilegítima, ineficaz e arriscada para os interesses dos Estados Unidos na América do Sul.
Operações militares e seus riscos
As ações de Trump ocorreram com forte retórica de advertência ao ditador Nicolás Maduro, que em 2020 foi indiciado por tráfico de drogas e possui uma recompensa de 50 milhões de dólares por sua cabeça. Apesar do discurso agressivo, as forças militares americanas já possuem oito navios de guerra no Caribe, incluindo a costa venezuelana, além de jatos F-35 em Porto Rico.
O Congresso, no entanto, não autorizou formalmente essas operações, e há risco de que Washington esteja se encaminhando para uma militarização maior na região, semelhante à Guerra ao Terror liderada pelos EUA no Oriente Médio. Essa estratégia, alertam analistas, pode mergulhar o país em conflitos caros e intermináveis, sem resultados concretos na luta contra o tráfico.
Venezuela e o papel limitado no tráfico
Implicações para a política externa
Segundo um relatório da DEA de 2024, cerca de 90% do cocaína chegando aos EUA vem do México via Colômbia, enquanto a Venezuela desempenha papel secundário na rota do tráfico. Ainda assim, os EUA focam na Venezuela por motivos políticos, já que Maduro é considerado um líder ilegítimo, responsável por eleições fraudadas e pelo fluxo de cocaína.
Embora Washington tenha adotado a estratégia de máxima pressão contra Maduro, há precedentes de diálogo entre os governos. Durante o segundo mandato de Trump, o enviado especial Richard Grenell negociou com Maduro a libertação de americanos presos e a devolução de migrantes venezuelanos. Essas ações, porém, dependiam de condições diplomáticas que só se fortalecem na medida em que o foco na derrubada do regime diminui.
Consequências da ofensiva militar
Maduro, por sua vez, dificilmente colaborará se perceber que o objetivo dos EUA é sua substituição. A trajetória das negociações mostra que, quando Washington tenta responsabilizar Maduro pelo tráfico, ele se afasta de qualquer diálogo em outros temas, como migração e cooperação regional. Assim, muitos analistas consideram que as ações militares podem apenas agravar a crise humanitária e política na Venezuela, sem impactar o tráfico de drogas.
Especialistas alertam que a estratégia de Trump reforça a polarização na região e afasta possibilidades de soluções diplomáticas, além de potencialmente ampliar conflitos e custos para os EUA.