A recente guinada bolsonarista nas declarações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), levanta preocupações sobre o aumento da rejeição de seu governo e a possibilidade de afastamento de eleitores insatisfeitos com a polarização política no Brasil. Analisando o cenário atual, especialistas em marketing político e diretores de institutos de pesquisa apontam que essa mudança de postura pode custar caro ao governador, especialmente com o olhar voltado às eleições de 2026.
A polarização entre Lula e Bolsonaro
O contexto político brasileiro se caracteriza por uma intensa polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Levantamentos recentes realizados por institutos como Datafolha, Genial/Quaest e Ipsos-Ipec revelam uma insatisfação crescente entre os eleitores em relação a temas como o tarifaço dos EUA e projetos de anistia para aqueles envolvidos na tentativa de golpe de 2021. A aproximação de Tarcísio a essas pautas, a fim de se consolidar como o candidato de Bolsonaro para as próximas eleições, pode ter complicaçòes inesperadas.
Consequências da mudança de postura
Os analistas observam que, embora a estratégia de Tarcísio busque estreitar laços com a base bolsonarista, há um risco considerável de alienar eleitores que desejam uma alternativa fora da polarização extrema atual. Durante uma manifestação em São Paulo, o governador chamou Alexandre de Moraes, ministro do STF, de “tirano”, uma expressão já utilizada por Bolsonaro e seus aliados, e que ele anteriormente evitava.
Antonio Lavareda, cientista político e diretor do Ipespe, observa que, embora a intenção de ganhar o apoio de Bolsonaro seja compreensível, Tarcísio pode ter ido longe demais. “Ele não precisava desse posicionamento para crescer no eleitorado da direita. Fez isso para crescer no coração da família Bolsonaro, mas acredito que errou na dose”, afirma Lavareda.
Análise das pesquisas eleitorais
Um levantamento do Ipespe realizado em julho já identificava Tarcísio como um nome forte entre os representantes da direita, alcançando 14% das intenções de voto, ficando atrás apenas de Bolsonaro. Por outro lado, pesquisas mais recentes sugerem que a maioria dos eleitores de direita demonstra preferência por uma candidatura da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em 2026.
Marcia Cavallari, diretora do Ipsos-Ipec, complementa que o eleitorado brasileiro parece estar se cansando da polarização, com níveis semelhantes de rejeição tanto para Lula quanto para Bolsonaro. Se Tarcísio não for cauteloso, ele pode se associar a essa rejeição, com possíveis consequências negativas para sua candidatura.
Os riscos da crítica ao Judiciário
A postura de Tarcísio em relação ao Judiciário, particularmente seus ataques ao STF, poderia atender a uma parte do eleitorado que se mostra insatisfeita com as instituições. Entretanto, essa abordagem pode isolá-lo entre os bolsonaristas mais radicais. Como observa Cavallari, “o eleitorado pende hoje para a direita, mas não para a mais radical”.
Apoiar a anistia a Bolsonaro e a outros envolvidos na trama golpista, além de entrar em conflito com as tarifas impostas pelos EUA, podem complicar ainda mais a situação de Tarcísio na corrida presidencial. Com 61% da população se opondo à eleição de um presidente que apoiasse a anistia a Bolsonaro — segundo pesquisa do Datafolha —, Tarcísio terá que navegar cuidadosamente por essas águas turbulentas.
Perspectivas para o futuro político de Tarcísio
O marqueteiro Marcelo Vitorino acredita que, com o passar do tempo, os temas que hoje geram atrito, como as tarifas e a discussão sobre o Judiciário, podem perder força. Porém, ele ressalta que o movimento de Tarcísio parece estar mais alinhado a interesses de curto prazo, o que pode não servir bem a sua candidatura. Para Vitorino, “o impeachment de um ministro do STF pode ser uma pauta relevante para a eleição ao Senado, mas é a questão econômica que realmente definirá a eleição presidencial.”
Por isso, a capacidade de Tarcísio de conquistar os eleitores das classes C e D pode ser vital. Conquistar esse eleitorado poderá ser a chave para o sucesso nas próximas eleições, especialmente em um cenário onde a insatisfação com a polarização e as antigas divisões políticas se tornam cada vez mais evidentes.