No coração de um dos bairros mais nobres de Fortaleza, um drama se desenrola em um antigo condomínio que abriga as últimas moradores de um edificado em vias de demolição. O impasse entre duas idosas e uma construtora tem gerado uma onda de constrangimento e apreensão, enquanto os demais moradores optaram por aceitar a proposta de troca de seus apartamentos por unidades no novo prédio que será construído. A disputa envolve não apenas questões financeiras, mas também a dignidade e o futuro das idosas.
A disputa entre os moradores
Duas idosas, Maria Elisier e uma outra senhora de 75 anos, são as únicas que recusaram a proposta de troca da construtora Reata Engenharia para demolir o prédio Ângela e dar lugar a um novo edifício de 21 andares. Na assembleia realizada em janeiro de 2025, 22 dos 24 condôminos aceitaram a demolição, enquanto as duas moradoras optaram pela venda do imóvel, preferindo não aceitar a permuta oferecida, que levantou preocupações devido à sua idade e à possibilidade de estarem impossibilitadas de usufruir do novo bem.
Com a decisão da maioria, a situação tornou-se tensa. As idosas enfrentam solidão em um prédio que, há pouco tempo, era lar de uma comunidade vibrante. A desocupação dos apartamentos gerou um clima de isolamento, com apenas dois apartamentos do edifício Ângela ainda ocupados. As reformas que foram realizadas em outros apartamentos visam revender itens, mas também criaram um estado de ruína que as idosas consideram angustiante.
Os desafios legais e técnicos
Os laudos técnicos apresentam um quadro complexo. Enquanto alguns laudos indicam que os prédios estão em estado crítico, o laudo apresentado pelas idosas informou que a estrutura do prédio é sólida e que as reformas necessárias não exigem uma demolição total. A Defesa Civil, por sua vez, identificou o risco da edificação como moderado, sugerindo reformas para evitar deterioração. Essa discrepância entre os laudos ilustra a confusão e o dilema pelos quais as idosas estão passando.
Após a assembleia que aprovou o fim do condomínio e a demolição, o caso foi parar na justiça, que suspendia os efeitos dessa decisão e destacava que a continuidade das obras de demolição representava um risco iminente. O juiz encarregado do caso ressaltou que as partes devem se reunir para uma audiência de conciliação e buscar um caminho que respeite também os direitos das idosas.
A construção e suas implicações para o futuro
A construtora Reata, por sua vez, enfatiza que o projeto irá beneficiar muitas famílias que já desocuparam seus apartamentos, e que a oferta de permuta e compra foi feita de forma justa. Entretanto, a resistência das idosas se baseia em preocupações legítimas sobre o que o futuro reserva para elas, uma vez que estão enfrentando não apenas a possível destruição de seus lares, mas também um sentido de solidão e abandono social.
O advogado das idosas ressalta que essas mulheres não são contra o desenvolvimento do novo condomínio; o que elas buscam é garantir que suas vozes sejam ouvidas e que seus direitos sejam respeitados. O sentimento de pressão para aceitar uma proposta que desconsidera suas necessidades e preocupações é palpável.
Considerações finais
As idosas enfrentam um dilema complexo, onde questões emocionais, sociais e financeiras se entrelaçam. A luta delas vai além de um simples conflito imobiliário; é uma batalha por dignidade e reconhecimento em um mundo que muitas vezes esquece os mais velhos. Com o apoio de familiares e aliados, elas continuam a se manifestar, esperando que seus direitos sejam respeitados. O caso dessas mulheres ressalta a importância de discutir as implicações humanas na urbanização e o impacto das decisões tomadas em nome do progresso.
Enquanto isso, o futuro do condomínio Ângela e Kátia permanece incerto, com a expectativa de que uma solução justa e humana possa ser alcançada para todas as partes envolvidas neste impasse.