Este fim de semana, Roma se transforma no coração da devoção católica com a realização do Jubileu das Irmandades. O evento, que se iniciou na sexta-feira (16) e segue até domingo (18), atraiu mais de 100 mil inscritos de mais de 100 países. Entre os participantes, destaca-se um expressivo grupo de brasileiros, que representa um dos maiores contingentes presentes nas celebrações, que serão encerradas com a Missa de início do ministério petrino do Papa Leão XIV.
A herança das irmandades no Brasil
O histórico de irmandades no Brasil remonta ao século XVI, quando os colonizadores portugueses trouxeram a tradição europeia de associações religiosas. Segundo o professor de História Helânio de Sousa da Cruz, essas organizações tiveram papel crucial no desenvolvimento social e religioso do país. “É impossível estudar a história do Brasil sem considerar a atuação das irmandades. Elas são um reflexo das transformações sociais e dos laços comunitários baseados na fé e na solidariedade”, afirma.
A devoção popular e o fortalecimento da fé
No Brasil Colônia, as irmandades rapidamente se tornaram populares, com evidência expressiva em locais como a Bahia, onde, no início do século XVIII, já existiam 31 irmandades reconhecidas. A importância dessas associações se destaca não apenas na estrutura do catolicismo, mas também na manutenção e no fortalecimento da fé popular. Em regiões onde a Igreja não conseguia alcançar todos os fiéis, as irmandades organizavam procissões e celebrações, cuidando também dos necessitados, conforme explica o historiador. “Elas foram fundamentais para a religiosidade e o apoio social, organizando festas religiosas e atuando em ações sociais”, detalha Cruz.
A contribuição social das irmandades
As irmandades também estiveram presentes em momentos cruciais da história do Brasil, incluindo o movimento pela abolição da escravatura. Grupos como Nossa Senhora da Boa Morte e Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos participaram ativamente de manifestações e promoveram ajuda aos libertos, com apoio até da Princesa Isabel.
Atuação das irmandades nos dias atuais
Nos dias de hoje, as irmandades permanecem ativas em diversas localidades, com destaque para sua organização de festividades religiosas e ações de caráter social. “Essas associações desempenham um papel significativo na preservação da cultura local e no apoio a obras de caridade, atuando em comunidades vulneráveis”, esclarece Helânio. Além disso, as irmandades se tornaram espaços de convivência and promoção de identidades religiosas e culturais.
Jubileu das irmandades: celebrando um legado
O Jubileu das Irmandades, que ocorre em Roma até este domingo (18), é uma celebração do legado e da força desses grupos. Com uma programação que inclui peregrinações e uma Grande Procissão pelo Centro de Roma, o evento marca um momento histórico com a participação dos membros das irmandades em trajes tradicionais. Para muitos, essa é uma oportunidade não apenas de celebrar a fé, mas também de reconhecer a relevância social e cultural que as irmandades apresentam ao longo da história do Brasil e em todo o mundo.
Com o Jubileu das Irmandades, revive-se a rica narrativa de fé, solidariedade e resistência, reafirmando a importância dessas associações na construção da identidade religiosa e na promoção da caridade em diversas comunidades. A continuidade dessa tradição é um testemunho da força que a fé, quando unida ao amor ao próximo, pode exercer na vida das pessoas.