O Brasil vive um momento crítico na indústria avícola após a confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) já tomou medidas rigorosas, suspendendo as exportações de carne de frango oriundas da região na tentativa de conter a propagação do vírus H5N1 e proteger a saúde pública.
Suspensão das exportações e reações do mercado
Com a descoberta do vírus, o Mapa cancelou as exportações de carnes de frango da região gaúcha, o que inclui mercados como China, União Europeia e Argentina. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, enfatizou que “ao menor indício de animal doente, a produção será inutilizada”. A China, por exemplo, suspendeu as importações por 60 dias. A Argentina só reintegrará suas compras após a certificação do Brasil como livre da doença. Outros países, como Japão e Arábia Saudita, devem implementar restrições específicas ao que for produzido no Rio Grande do Sul.
Embora analistas minimizem o impacto imediato nas exportações, eles antecipam que essa crise pode afetar os preços das aves e ovos internamente. Diferentemente do que se poderia esperar, os preços podem não cair devido à menor oferta, mas aumentar, seguindo a tendência observada em outros países, como os EUA, quando enfrentaram surtos semelhantes.
A situação atual da produção avícola
A granja onde o caso foi confirmado se especializa na criação de galinhas matrizes, que são fundamentais para a produção de aves comerciais de corte. Com o surto localizado, o Brasil, que é o terceiro maior produtor de carne de frango do mundo, pode sofrer danos limitados. Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), indicou que há oportunidades para negociações com autoridades sanitárias internacionais com o intuito de restringir os embargos apenas a regiões afetadas.
Apesar do controle atual, especialistas como José Carlos Hausknecht, da MB Agro, são cautelosos. Segundo ele, a quantidade de produto destinada à exportação que pode ficar no mercado interno não deve ultrapassar 10% do total, limitando assim o impacto nos preços. As grandes empresas do setor avícola têm a flexibilidade necessária para redirecionar a produção, o que pode ajudar a equilibrar a oferta no mercado nacional.
Possíveis consequências inflacionárias
À medida que o surto se desenvolve, as pressões inflacionárias podem surgir caso a doença se espalhe, levando produtores a abater um grande número de aves. André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que poderá haver uma alta de preços, como já ocorreu no mercado americano. Essa preocupação é acompanhada por um monitoramento constante das condições sanitárias nas granjas, especialmente nas regiões produtoras tradicionais, como São Paulo e Minas Gerais, onde o risco de disseminação parece baixo no curto prazo.
Medidas preventivas e histórico do vírus
Com o vírus da gripe aviária circulando globalmente desde 2006, o Brasil tem sido um dos últimos países a registrar casos, e a introdução da doença em aves silvestres em 2023 aumentou a vigilância em granjas comerciais. A Omsa (Organização Mundial de Saúde Animal) já informou que a gripe foi registrada pela primeira vez em 1996, tendo causado a morte de centenas de milhões de aves ao longo dos anos.
No entanto, até o momento, as autoridades brasileiras garantem que a doença não representa risco à saúde humana através do consumo de carne ou ovos, o que é positivo para a manutenção da demanda entre consumidores locais.
Buscando novos mercados
Com os embargos em mercados importantes, a ABPA já analisa alternativas para os exportadores brasileiros, que podem buscar novos destinos como Vietnã, Hong Kong e outros países da África. Contudo, a competição entre o consumo interno e a exportação pode complicar as previsões sobre se um aumento da oferta de carne de frango no Brasil levará à redução dos preços.
À medida que o Brasil enfrenta essa crise, a resposta não só das autoridades, mas também do setor privado, será crucial para evitar uma longa e difícil recuperação da indústria avícola. A situação continua a ser monitorada, com esperanças de que medidas eficazes possam mitigar os impactos da gripe aviária e garantir a segurança alimentar do país.