Recentemente, mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) revelaram que Wladimir Matos Soares, um dos doze denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no “núcleo de ações táticas” de uma tentativa de golpe, expressou sua decepção com a incapacidade do então presidente Jair Bolsonaro em formar um time eficaz que pudesse sustentar seu governo e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. As conversas entre Soares e seus contatos mostram como as tentativas golpistas poderiam não ter saído como planejado.
A denúncia contra Wladimir Matos Soares
Em fevereiro deste ano, Soares foi denunciado pela PGR sob graves acusações, incluindo organização criminosa, abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, e outras infrações que colocaram sua conduta em xeque perante a justiça. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) deve deliberar sobre essas acusações na próxima semana, tornando-o um réu no processo.
As mensagens analisadas pela PF, que foram extraídas do celular de Soares durante uma operação de busca e apreensão em novembro do ano anterior, evidenciam o desespero e a preocupação do policial em relação ao fracasso da trama golpista. Em uma troca específica ocorrida em 29 de dezembro de 2022, Soares comentou sobre uma operação policial contra indivíduos que tentavam invadir a sede da PF em Brasília, em um protesto antidemocrático que culminou em vandalismo.
Os descontentes com a gestão bolsonarista
Numa das mensagens, Soares lamenta: “Não vai mais rolar! O técnico não conseguiu os jogadores certos”, referindo-se à falta de pessoas adequadas no governo para garantir a manutenção do poder. Em resposta, um interlocutor identificado apenas como Flávio Quirino de Morais expressou frustração com a situação, que é refletida nas discussões informais entre membros do núcleo bolsonarista. No entanto, a mensagem de Soares não se limitou a um único destinatário; ele repassou essa advertência a outros contatos, como forma de sinalizar que o golpe de Estado não se concretizaria naquele momento.
Implicações das investigações
Os dados apresentados no relatório da PF, que recentemente foi enviado ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes, também incluem referências à estratégia de Soares durante a coordenação da segurança da posse presidencial. Ele foi identificado como um dos coordenadores que monitoravam ameaças potenciais a autoridades, incluindo a equipe de segurança de Lula. Além disso, Soares participou ativamente de uma estratégia que visava neutralizar ações de figuras políticas opositoras.
O envolvimento de Soares em um suposto plano para assassinar autoridades, conhecido como “Punhal Verde Amarelo”, também foi destacado, revelando as dimensões extremas das ações desse grupo. As investigações apontam que o alvo incluía não apenas Lula, mas também o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
Consequências e o papel da Justiça
À medida que novas informações são reveladas, a tensão entre os defensores de Bolsonaro e as autoridades judiciais se intensifica. Os generais que não se alinharam com os planos golpistas, como Hamilton Mourão e Valério Stumpf Trindade, receberam críticas severas de Soares, que os chamou de “filhos da puta” em mensagens. Isso demonstra a frustração crescente dentro do grupo bolsonarista e levanta questões sobre a lealdade e a confiança entre membros de altos escalões.
Com a PGR levando o caso ao STF e as acusações de golpe de Estado empurrando a discussão para o centro do debate político brasileiro, as consequências dessas revelações podem ser profundas. O STF está sob pressão para lidar com estas denúncias e assegurar que a responsabilização ocorra para os que tentaram desestabilizar a democracia.
Evidentemente, o papel da Justiça será crucial para restaurar a confiança nas instituições e assegurar que tentativas de golpe não sejam toleradas. À medida que a sociedade civil observa esses desenvolvimentos, a importância de um julgamento imparcial se torna ainda mais evidente.
Por fim, a narrativa da decepção e fracasso entre os apoiadores de Bolsonaro, como expressada por Soares, ressoa o estado de tensão política atual no Brasil e a fragilidade da democracia que ainda deve ser preservada e defendida.