No calor da pandemia, quando a urgência em fornecer equipamentos de saúde era evidente, um esquema de corrupção envolvendo a gestão do ex-prefeito Marcelo Crivella vem à tona. A investigação do Ministério Público (MP) destaca o papel do consultor Bruno Leonardo da Silva Pinto, que se associou à Z FU Consultoria Empresarial apenas dois dias antes da assinatura de contratos que resultaram em comissões astronômicas de R$ 37 milhões pagos pela China Meheco Corporation.
O contexto da investigação
O contrato, firmado durante a administração de Crivella, tinha o objetivo de modernizar o parque tecnológico da saúde municipal e fornecer Equipamentos de Proteção Individual (EPI). No entanto, segundo o MP, o resultado foi um desvio estimado de R$ 68 milhões dos cofres públicos, devido a contratações duvidosas que beneficiavam diretamente Bruno Leonardo.
Os contratos e a comissão exorbitante
Bruno, que se apresentava como consultor da China Meheco, teve acesso a informações privilegiadas da Secretaria Municipal de Saúde, o que levantou suspeitas sobre a legitimidade dos contratos. Com a Z FU Consultoria, ele recebeu quase R$ 37 milhões em comissões, sendo a única concorrente nas licitações. O foco das aquisições foram aparelhos de raios-X, de anestesia e de hemodiálise, muitos dos quais ficaram ociosos ou foram até devolvidos.
Impacto nas finanças públicas
A investigação revela que os equipamentos adquiridos não atendiam a uma necessidade comprovada, gerando prejuízos significativos. O MP destaca que, enquanto a cidade enfrentava uma grave crise de saúde pública, essas aquisições foram realizadas sem a devida justificativa.
Os sócios e os lucros
Bruno não estava sozinho nessa empreitada. Ele contava com a parceria do ex-jogador chinês Bing Changbao na Z FU. Embora Bing tivesse feito uma breve passagem pelo Botafogo, sua experiência no setor de saúde era praticamente inexistente. Após as transações, ele ostentou um estilo de vida luxuoso, adquirindo propriedades e veículos de alto valor, corroborando as suspeitas de enriquecimento ilícito.
Dinheiro e política
A investigação do MP ainda apura o destino final das comissões milionárias recebidas por Bruno. As suspeitas incluem a possibilidade de que esses valores tenham sido canalizados para financiar a campanha de Crivella por meio de um esquema de “Caixa Dois”. A relação entre Bruno e Crivella remonta a 2012, quando o consultor atuou como fiador do escritório político do ex-prefeito, indicando uma trama de corrupção de longa data.
A resposta de Crivella e da defesa
A defesa do ex-prefeito foi rápida ao contestar as acusações. Eles argumentam que a cidade do Rio foi uma das únicas no mundo a receber equipamentos essenciais durante a crise da Covid-19, como tomógrafos, respiradores e monitores. Além disso, afirmam que muitas das compras foram feitas a preços menores do que os praticados em 2020, contestando assim a acusação de superfaturamento.
Em nota, a ex-secretária Ana Beatriz Bush, uma das citadas na investigação, defendeu sua atuação como servidora pública e nega quaisquer irregularidades em suas ações, ressaltando que sempre agiu dentro da legalidade.
Consequências e bloqueios financeiros
A Justiça determinou o bloqueio de até R$ 50,5 milhões das contas de Crivella, Bruno e outros envolvidos. Além disso, a indisponibilidade dos bens das empresas investigadas pode ascender a R$ 320 milhões, o que ressalta a gravidade da situação e a seriedade das acusações feitas pelo MP.
Próximos passos na investigação
A investigação ainda está em andamento, e com isso surgem novas perguntas sobre a relação entre política e corrupção no Brasil. O caso levanta questões cruciais sobre como contratos públicos foram manipulados e a necessidade de um controle mais rigoroso sobre as aquisições governamentais, especialmente em tempos de emergência.
O desdobramento dos acontecimentos promete seguir em ampla cobertura, à medida que novos detalhes surgirem e a verdade sobre os vínculos entre Crivella e Bruno Leonardo venha à tona.