A Petrobras, a gigante estatal brasileira, está no centro das atenções após a sua presidente, Magda Chambriard, anunciar que a empresa deve “apertar os cintos”. Isso ocorre em meio à crescente preocupação com os preços do petróleo, que estão em queda, dificultando os pagamentos de dividendos extraordinários aos acionistas. A previsão de analistas indica que a era dos dividendos turbinados pode estar chegando ao fim.
Aquisição de dividendos e a realidade do mercado
Em 2024, a Petrobras distribuiu a impressionante quantia de R$ 75,8 bilhões em dividendos, dos quais 28,7% foram destinados ao governo federal, o maior acionista. Desse total, cerca de R$ 20 bilhões foram considerados dividendos extraordinários. Essa política de grandes pagamentos gerou tensões entre o ex-presidente Jean Paul Prates e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, levando à saída de Prates. Entretanto, com a recente queda do preço do barril do petróleo, que atualmente gira em torno de US$ 60, as expectativas para pagamentos futuros vêm se tornando cada vez mais sombrias.
Durante uma teleconferência com analistas, Magda Chambriard foi clara: “é hora de ajustar gastos e controlar investimentos”. Em momentos de exceção, a Petrobras pode distribuir dividendos extraordinários, mas esse pagamento só ocorre quando há uma sobra significativa de caixa, em contraste com o dividendo ordinário que segue uma fórmula atrelada à saúde financeira da empresa.
Impactos das quedas no preço do petróleo
Como afirmaram analistas de mercado, a pressão sobre a geração de caixa da Petrobras decorre diretamente da flutuação dos preços do petróleo. De acordo com Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, a capacidade da estatal de distribuir dividendos extraordinários em 2025 está severamente reduzida. “O fluxo de caixa livre foi impactado, o que afeta a possibilidade de distribuição de dividendos extras”, analisou Lima.
A recente elevação da dívida líquida da empresa em 28% também contribui para o cenário desafiador, levando ao entendimento de que a distribuição de dividendos extraordinários nas próximas temporadas é improvável. A análise ainda levanta a questão se a empresa se preparará para um novo ciclo de dividendos turbinados, em meio à volatilidade constante dos preços e forte necessidade de capital para investimentos.
Estatal busca um novo equilíbrio
Os dirigentes da Petrobras, incluindo o diretor financeiro Fernando Melgarejo, reconhecem que a distribuição de dividendos, especialmente extraordinários, será reavaliada nos próximos períodos. O fluxo de caixa, o volume de investimentos e a necessidade de liquidez estarão sob constante análise. Melgarejo enfatizou que, se houver uma recuperação significativa do preço do petróleo, isso poderá reabrir discussões sobre novos dividendos.
Os especialistas do mercado estão começando a “precificar” o que pode ser interpretado como o fim do ciclo de dividendos incrementados. João Daronco, analista da Suno Research, expressou ceticismo sobre a capacidade da Petrobras de manter altos níveis de pagamento de dividendos, notando que o cenário atual está indefinidamente mais apertado.
Possíveis futuras direções da Petrobras
De acordo com Pedro Galdi, analista da plataforma AGF, um nível de petróleo abaixo de US$ 65 pode prolongar essa pressão. Qualquer otimismo em relação ao aumento do preço do petróleo está atrelado ao comportamento do mercado e possíveis acordos que venham a influenciar a oferta. “Acompanhamos de perto a OPEP e suas manobras”, disse Galdi. Essa situação coloca a Petrobras em uma posição delicada para equilibrar os retornos aos acionistas e as necessidades de investimento em um mercado volátil e desafiador.
Em suma, a Petrobras enfrenta um dilema crítico ao tentar equilibrar os interesses dos acionistas em relação ao necessário investimento em sua infraestrutura e operações. A busca por um equilíbrio adequado entre a captura de lucros e a manutenção da capacidade de investimento será crucial para seu futuro.