Na conclusão da cúpula do G20 na África do Sul, a China revelou uma iniciativa de mineração verde em parceria com 19 países, incluindo nações africanas e da Ásia, como Camboja, Nigéria, Mianmar e Zimbábue. O projeto, desenvolvido em parceria com a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, visa criar uma cadeia de suprimentos sustentável de minerais essenciais, como terras raras, utilizados em tecnologia e defesa.
Proposta de cooperação internacional em minerais críticos
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, participou do evento levando propostas que buscam responder às preocupações globais quanto às restrições do seu país às exportações de terras raras. Em seu discurso neste domingo, ele defendeu a necessidade de “gerenciar com cautela” as exportações de minerais para uso militar, justificando a lógica das restrições chinesas, que têm impacto nas cadeias de suprimentos mundiais.
Horas após o anúncio, Pequim detalhou sua iniciativa de mineração verde, mostrando uma resposta clara às tentativas dos Estados Unidos de mobilizar aliados em uma cadeia alternativa de fornecimento de terras raras. Segundo Li, a China promoverá a “cooperação mutuamente benéfica e o uso pacífico de minerais essenciais”, assegurando que “protege os interesses dos países em desenvolvimento, ao mesmo tempo em que trata com prudência os usos militares”.
Reforço do domínio chinês e tensões globais
O domínio da China sobre terras raras, minerais críticos para a fabricação de produtos que variam de smartphones a mísseis, tem sido uma estratégia do presidente Xi Jinping para proteger a economia chinesa das tarifas impostas por Donald Trump durante sua gestão. Nenhum dos dois líderes esteve presente na cúpula, enviando seus representantes para responder às questões sobre possíveis retaliações comerciais e militares.
Apesar das iniciativas diplomáticas, a declaração conjunta do G20 fez uma crítica velada às ações comerciais unilaterais da China, destacando os riscos de restrições ao acesso a minerais críticos, tema de tensão recorrente para países como Alemanha e Japão. Diversos líderes europeus manifestaram preocupação com as restrições chinesas às exportações, enquanto negociam licenças gerais de exportação com Pequim, em busca de manter o fluxo desses minerais essenciais.
Avanços e desafios na cadeia de minerais críticos
O documento final do G20 ressaltou o compromisso de criar um plano voluntário para transformar os recursos minerais críticos em motores de prosperidade e desenvolvimento sustentável para os países em desenvolvimento. Especialistas como Kevin Gallagher, da Universidade de Boston, apontam que esses países desejam mais do que acesso a minerais brutos; querem que China e Estados Unidos invistam em refino e processamento, gerando valor local e empregos.
Posicionamento do Brasil e perspectivas futuras
Reforçando sua posição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil não pretende ser apenas um exportador de matérias-primas, mas um parceiro na cadeia de valor dos minerais críticos. Em coletiva, destacou que o país busca agregar valor ao setor mineral, promovendo o desenvolvimento industrial e sustentável.
Na China, o anúncio de projeto de mineração verde reflete a estratégia de Pequim de proteger sua economia de tarifações e conquistar uma liderança maior na indústria de minerais críticos. A iniciativa busca construir uma rede inclusiva e “justa”, segundo a mídia estatal, além de garantir o uso pacífico dos minerais, ao mesmo tempo em que promove investimentos na capacidade técnica dos países em desenvolvimento.
Enquanto isso, as negociações entre China e Estados Unidos continuam, com ambos buscando acordos sobre licenças de exportação para terras raras. Na Europa, líderes como os primeiros-ministros da França, Alemanha e Itália destacaram a importância de garantir cadeias de suprimentos estáveis para componentes essenciais à produção industrial, num sinal de que as tensões globais nesse setor ainda exigem atenção diplomática contínua.
O futuro da cadeia global de minerais críticos permanece em disputa, com a China buscando consolidar sua liderança e assegurar recursos estratégicos em meio a disputas econômicas e políticas internacionais.



