A recente megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, que resultou em 121 mortes, não apenas deixou uma marca trágica na história do Rio de Janeiro, mas também reanimou o cenário eleitoral, especialmente entre os partidos de direita. Na esteira de um acontecimento tão intenso, o prefeito Eduardo Paes (PSD) se vê diante de um dilema: manter a cautela ou surfar a onda de apoio popular à ação policial, enquanto busca sua reeleição nas eleições de 2026.
Reação da direita e impactos nas eleições
A operação, considerada a mais letal da história do Brasil, causou um efeito imediato nas movimentações políticas na região. O governador Cláudio Castro (PL), por exemplo, parece ter encontrado um novo vigor em sua candidatura ao Senado, angariando cerca de um milhão de novos seguidores nas redes sociais em menos de uma semana, após a operação. As pesquisas demonstram que a aprovação de sua gestão passou de 43% para 53%, um sinal claro de que a estratégia adotada pelo governo, ao reagir com força contra o crime organizado, está ressoando junto ao eleitorado carioca.
Entretanto, questionamentos permanecem. Conforme um levantamento, 52% dos moradores acreditam que após a operação, o Rio não se tornou mais seguro, enquanto que 58% avaliaram a ação como um sucesso, contrastando com 32% que a consideraram como um fracasso. Este panorama evidencia a polarização entre os cidadãos sobre a realidade da segurança pública na cidade.
A postura cautelosa de Eduardo Paes
Por outro lado, Eduardo Paes vem adotando uma posição contida. Enquanto teme limitar seu apoio popular, ele tem sido cuidadoso em suas declarações sobre a operação. Em conversas com secretários, enfatizou a importância de evitar o fechamento desnecessário de estabelecimentos devido ao pânico gerado pela incursão. A cautela reflete não apenas uma tentativa de evitar desgastes, mas também uma necessidade de estar alinhado a uma segurança pública que deve ir além de ações militares e de força, buscando soluções a longo prazo.
A postura moderada de Paes contrasta fortemente com as reações mais efusivas do bolsonarismo, que defende a adoção de candidatos com forte vínculo com a segurança pública para a disputa ao governo em 2026. A busca por alternativas é evidente, mas ainda carece de um candidato definido que possa competir com Paes em um cenário eleitoral que, por enquanto, parece favorável ao prefeito.
Divisões nas percepções populares
As pesquisas também revelam uma divisão significativa nas percepções das operações policiais, especialmente entre os moradores de favelas. Aproximadamente 87,6% dos residentes dessas áreas apoiaram a incursão, refletindo uma visão de necessidade de controle mais rígido sobre o tráfico. Apesar do sucesso eleitoral em algumas frentes, a direita fluminense ainda enfrenta um “teto de vidro” no que diz respeito à gestão da segurança pública, especialmente à medida que a população clama por uma abordagem que atenda a segurança com planejamento e estratégia.
Enquanto isso, Castro e seus aliados celebram a capacidade de pautar o debate nacional, colocando os adversários em uma posição defensiva em relação às questões de segurança, que são fundamentais para o eleitorado. Contudo, observadores alertam que o governador precisa estar atento à gestão de sua imagem e aos desafios legais que se aproximam, como o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral que pode resultar em sua cassação.
Perspectivas futuras e desafios
À medida que as eleições de 2026 se aproximam, a polarização sobre a segurança pública no Rio de Janeiro tende a aumentar. A tradição de vitórias da esquerda nas eleições passadas pode ser desafiada por medidas rigorosas de segurança que ganham ressonância popular. Nomes como Benedita da Silva (PT) e Alessandro Molon (PSB) representam um passado forte, mas enfrentam dilemas significativos em um cenário onde a segurança é prioritária no discurso eleitoral.
Enquanto a ordem e a segurança se tornam bandeiras centrais para os candidatos de direita, a necessidade de uma política pública sólida e de um plano efetivo para o dia seguinte se torna cada vez mais urgentes. Paes, Castro e outros líderes devem encontrar um equilíbrio que responda às necessidades imediatas sem esquecer as complexidades do contexto social carioca.
O desfecho desta nova fase no debate sobre segurança pública está longe de ser claro, mas os impactos da megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha certamente moldarão os rumos das próximas eleições.



