O Pro Piauí foi lançado em 2022 como plano de investimentos para obras estaduais. Dois anos depois, o que temos de concreto?
Segundo o portal da transparência do Governo, dos mais de R$ 2,1 bilhões destinados, mais de R$ 1,3 bilhão já foram pagos.
O dinheiro flui, inundando as contas. Mas as obras? Ora, as obras!
Das 731, apenas 223 chegaram concluídas. Outras 414 oscilam entre 50% e 90% de execução. E 36 sequer começaram.
Luzilândia
Não para por aí. Na PI 112, em Luzilândia, a restauração do trecho rodoviário atinge 83,38% de conclusão, segundo a Transparência—ou o que sobrou dela. Quase pronta, poderíamos aplaudir se não fosse o detalhe: a construtora responsável ainda não recebeu um mísero centavo pelos trabalhos.
É o surrealismo da administração pública: você trabalha, você avança, você entrega (quase), mas não recebe. Aí alguém deve estar pensando: “Mas vão pagar, certo?” Em algum momento, sim.
O Piauí, em vez de prosperar, carrega nas costas o peso de um Estado que promete muito, executa mal e, ao final, apresenta a conta.
Tudo bem, exceto quando não está
Na Fundação Municial de Saúde de Teresina temos um espetáculo grotesco: o presidente da Fundação Municipal de Saúde – esse Ítalo Costa – aparenta tranquilizar o prefeito como um pianista tocando “Asa Branca” no convés do Titanic. “Tudo bem, excelência!”, deve dizer, enquanto as sacolas de lixo, literalmente, não conseguem o destino correto por falta de pagamento.
A indústria que fornece o produto, do Paraná, reclama, liga, manda e-mail, WhatsApp, sinal de fumaça. E o que recebe em troca? O eco do vazio, o silêncio absoluto. A ouvidoria, ironicamente, não ouve. Setores inteiros, aparentemente formados por fantasmas, ignoram qualquer contato.
Enquanto isso, a desculpa-padrão deve ser um interminável “estamos ajustando tudo, senhor prefeito”. Ajustam o quê? Talvez a paciência dos fornecedores, que, sem receber, são forçados a ouvir o canto das cigarras.
O cenário descreve com perfeição o lema não-oficial da nossa burocracia: incompetência e falta de responsabilidade, temperadas com descaso.
A FMS transforma-se num labirinto administrativo onde nada se paga, nada se responde e nada se resolve. Ítalo Costa apresenta-se ao prefeito com uma polidez ensaiada, talvez um sorriso ensaboado, jurando que está tudo sob controle.
Picadeiro eleitoral
A coreografia política no Piauí é uma dança de cadeiras sem dó nem piedade. O PP, sob comando de Ciro Nogueira, outrora colado em Bolsonaro, agora tenta – ou é tentado – uma reaproximação com Lula, afinal, 2026 está logo ali e a reeleição no Senado não cai do céu.
Enquanto isso, Júlio César (PSD), que também entende a utilidade de um bom aceno a quem está no poder, recorda-se da sua lealdade ao PT em 2022 materializada com a própria esposa senadora, suplente de Wellington Dias, hoje ministro de Lula.
É a velha mágica do pragmatismo: quem era oposição deixa o orgulho na porta do palácio e, num passo de balé, se oferece para “ajudar a governar”. Júlio César também sonha com o Senado em 2026, e não há nada como uma aliança bem costurada para reforçar credenciais e garantir tapete vermelho quando chegar a hora.
No fim, PP ou PSD, Bolsonaro ou Lula, não importa. Vale é estar do lado de quem distribui as fichas do poder – e quem assiste a esse rodopio que engole ideologias e despeja conveniências, que se conforme com o espetáculo.
E o Marcelo Castro, hein?
Velho amigo do ministro Wellington Dias, ex-ministro da Saúde no governo Dilma, homem de relações sólidas e traquejo político, ele tenta equilibrar-se na corda bamba.
Com Ciro Nogueira (PP) e Júlio César (PSD) sinalizando alianças e manobras, Marcelo, que nunca foi de correr para as bordas do ringue, observa tudo com a serenidade de um monge calculista.
No Piauí, a política não é mera disputa partidária—é herança de velhos caciques, trocas de favores e gentilezas de conveniência. Enquanto Ciro se enrosca com Lula e Júlio César reconta seus acenos ao PT, Marcelo Castro mantém a calma de quem já esteve nos bastidores do poder, conhece o cheiro da tinta do poder pelo lado de dentro.
Terá paciência para esperar o melhor momento ou acabará engolido pelo turbilhão de interesses que rodam a sucessão?
No fim, não se trata apenas de ideologia ou amizade com Wellington Dias. Trata-se de sobrevivência política. E Marcelo, que não é novato no ramo, sabe que jogar o jogo não é questão de escolha, mas de necessidade.
Em um cenário com duas vagas e três pré-candidatos, o velho ditado piauiense se aplica: “quem não pode com o pote não pega na rodilha.” E Marcelo, convenhamos, sabe manejar o pote.