A combinação de juros altos, risco de recessão técnica e incertezas fiscais já está impactando a estratégia política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em meio às pressões econômicas, o governo busca alternativas para proteger sua imagem e viabilizar sua reeleição em 2026. As recentes movimentações políticas do Planalto, incluindo uma reforma ministerial e articulações com partidos centristas, refletem um esforço para fortalecer a governabilidade e conter o desgaste causado por um cenário econômico adverso.
Impacto dos juros altos e recessão técnica
Com a elevação da taxa Selic para 12,75%, anunciada na última reunião de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central, e com a expectativa de novas altas em 2025, a equipe econômica de Lula enfrenta desafios que podem enfraquecer sua popularidade. Sem sinais concretos de que o pacote fiscal será suficiente para equilibrar as contas públicas, a política monetária restritiva continuará pressionando o consumo, os investimentos e o mercado de trabalho. Para um presidente que aposta no crescimento econômico como pilar de sua gestão, o risco de recessão compromete não apenas a economia, mas também seu capital político.
Desafios econômicos colocam popularidade de Lula à prova
Lula, que goza de popularidade relativamente estável e aparece como favorito em pesquisas eleitorais contra figuras como Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, agora enfrenta um teste crucial. A economia, fator decisivo para o humor do eleitorado, começa a dar sinais de desaceleração mais severa, o que pode afetar diretamente a avaliação de seu governo. O temor entre assessores presidenciais é que uma recessão técnica em 2025 leve ao aumento do desemprego e à redução da renda das famílias, enfraquecendo o apelo de Lula e do Partido dos Trabalhadores (PT) às vésperas das eleições presidenciais.
Reflexos da configuração do Banco Central em 2025
Além disso, a configuração do Banco Central em 2025, com sete dos nove diretores indicados pelo atual governo, pode dificultar a narrativa de que a responsabilidade pelos juros altos pertence à gestão anterior, liderada por Roberto Campos Neto. Essa mudança no comando do BC, embora represente uma vitória política para Lula, reduz o espaço para manobras discursivas frente ao eleitorado e à oposição.
Fortalecimento do centro e reforma ministerial
Diante desse cenário, o governo intensifica suas articulações com partidos de centro, como MDB, PSD, União Brasil e Progressistas. Essas legendas, que já demonstraram força nas eleições municipais, são vistas como fundamentais para ampliar a base de apoio do Planalto e garantir a governabilidade necessária para atravessar um período de dificuldades econômicas.
Entre as estratégias em curso está uma ampla reforma ministerial prevista para o início de 2025. O objetivo é incorporar representantes desses partidos ao primeiro escalão do governo, reforçando alianças políticas em troca de estabilidade legislativa. Segundo interlocutores, Lula planeja usar o momento para consolidar apoios e minimizar as pressões sobre o governo no Congresso Nacional, especialmente em pautas fiscais.
Esses movimentos também se estendem ao nível municipal. O PT tem flexibilizado sua postura em alianças regionais, apoiando candidatos de legendas centristas em diversas cidades estratégicas. Esse pragmatismo político reflete o reconhecimento de que a sobrevivência eleitoral em 2026 dependerá de uma coalizão ampla e diversificada, capaz de neutralizar a força do bolsonarismo e de outros grupos de oposição.
Relação com Arthur Lira e o Progressistas
O Progressistas (PP), por exemplo, tem sido alvo de atenção especial do Planalto. A relação com lideranças do partido, como Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, é estratégica para garantir apoio a pautas sensíveis e bloquear iniciativas que possam enfraquecer ainda mais o governo. Reuniões com prefeitos e líderes do PP têm sido constantes, incluindo a participação em eventos como a “Marcha dos Prefeitos de Lula”, que busca consolidar o diálogo sobre projetos federais e programas locais.
Além disso, o fortalecimento do centro não é apenas uma necessidade eleitoral, mas também uma resposta às críticas internas dentro do PT. Uma ala do partido pressiona por uma maior aproximação com partidos pragmáticos, argumentando que o momento exige alianças que garantam resultados concretos na economia e na agenda social.
Impacto da economia nas eleições 2026
Se a economia não mostrar sinais de recuperação até meados de 2025, o impacto pode ser devastador para a estratégia de reeleição de Lula. Embora ele ainda apareça como um nome forte, um cenário de recessão prolongada pode corroer sua base de apoio e abrir espaço para adversários explorarem a insatisfação popular. O desafio será equilibrar a narrativa política com ações concretas que sinalizem ao mercado e à população que o governo tem o controle da situação.
Estratégias para neutralizar a oposição
Por ora, o que se vê é um movimento calculado para consolidar o apoio de partidos de centro, evitar rupturas no Congresso e manter a confiança do eleitorado. A habilidade de Lula em navegar nesse ambiente político e econômico será decisiva para definir não apenas o futuro de seu governo, mas também o do PT no cenário político brasileiro.