Quase cinco anos se passaram desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil em 2019. Sete desses meses foram sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou ao poder e lançou uma série de desafios para Bolsonaro, tanto em sua vida pública quanto privada.
Neste intervalo, Bolsonaro perdeu a eleição, o poder e também a elegibilidade. Mas não a popularidade, que parece inabalável.
A queda e o renascimento político
Depois de perder a reeleição e sua elegibilidade, Bolsonaro se encontra em um paradoxo político. Embora inelegível, sua influência política e popularidade parecem inabaláveis. O ex-presidente continua sendo uma figura polarizadora que comanda uma legião de seguidores, tanto online quanto offline.
A batalha nas redes sociais
Um exemplo palpável dessa influência é sua presença nas redes sociais. Uma recente entrevista de Bolsonaro no programa Pânico, da Jovem Pan, acumulou mais de 1,3 milhões de visualizações no YouTube. Comparativamente, o canal de Lula na mesma plataforma tem 1,33 milhões de inscritos, enquanto o de Bolsonaro ostenta 6,45 milhões. No Instagram, a disparidade é ainda mais evidente: Lula tem 13 milhões de seguidores, contra 25 milhões de Bolsonaro.
O ex-presidente Bolsonaro continua influenciando, tanto nas redes sociais quanto fora delas, milhares de apoiadores que o seguem para onde quer que vá, e em qualquer post que ele publique.
O dilema da esquerda
A esquerda brasileira está ciente do potencial de Bolsonaro de influenciar as eleições de 2026, mesmo que indiretamente. Ele é visto como uma ameaça latente, um “fantasma” que assombra o Palácio do Planalto. A incerteza é tão palpável que qualquer deslize do governo atual pode reverter a lealdade dos eleitores, catapultando-os de volta para o campo bolsonarista.
O labirinto jurídico
Apesar da popularidade, Bolsonaro enfrenta um labirinto de acusações legais. Ele é objeto de múltiplos inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), que vão desde os atos antidemocráticos de 8 de janeiro até alegações de genocídio indígena e má gestão da pandemia de COVID-19. Ainda assim, até o momento, essas acusações não parecem ter abalado sua base de apoio.
O xadrez político para 2026
Enquanto isso, dentro do espectro político da direita, onde se encontram partidos como o PL, Progressistas e Republicanos, já se iniciou uma corrida silenciosa para encontrar um sucessor viável para Bolsonaro. Os nomes mais cotados são o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, e a senadora Tereza Cristina, vista como uma peça-chave em futuras alianças políticas.
O cenário é complexo e fluido. Bolsonaro, mesmo afastado do poder, continua sendo uma força a ser reconhecida e um enigma para seus adversários. Ele é, em muitos aspectos, o “elefante na sala” da política brasileira: impossível de ignorar, difícil de contornar.
Bolsonaro pode ser preso?
De inquéritos domésticos a denúncias internacionais
O ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta um complexo cenário legal, marcado por uma série de inquéritos e acusações que vão desde o âmbito nacional ao internacional. No Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro é objeto de sete investigações distintas, abrangendo acusações de incitação pública à prática de crimes e atos antidemocráticos. Um dos casos mais notórios envolve um vídeo em que o ex-presidente questiona a integridade das eleições de 2022.
Além das fronteiras brasileiras, Bolsonaro também é alvo de seis denúncias em tramitação no Tribunal Penal Internacional (TPI). As acusações variam desde a gestão inadequada da pandemia de COVID-19 até alegações de genocídio indígena e aumento do desmatamento na Amazônia.
No cenário doméstico, outros cinco inquéritos no STF investigam Bolsonaro por uma variedade de delitos, incluindo vazamento de dados e disseminação de fake news. Um dos casos mais emblemáticos é o da adulteração de dados de cartões de vacina, que resultou na prisão do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente.
Apesar de perder o foro privilegiado, Bolsonaro ainda enfrenta inquéritos críticos sob a supervisão do ministro Alexandre de Moraes. Recentemente, o ministro autorizou a quebra do sigilo bancário do ex-presidente e da ex-primeira-dama, Michele Bolsonaro. A Polícia Federal também obteve acesso aos dados do celular do advogado Frederick Wassef, associado à família Bolsonaro.
A postura do STF em relação a Bolsonaro é majoritariamente crítica, conforme evidenciado por declarações recentes do ministro Luís Barroso, que proclamou: “Nós derrotamos o bolsonarismo”. Com exceção dos ministros Nunes Marques e André Mendonça, indicados por Bolsonaro, a corte tende a ser desfavorável ao ex-presidente em seus julgamentos.
O caso dos presentes de luxo
Em uma nova reviravolta, uma operação da Polícia Federal, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), colocou o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados sob os holofotes por suspeitas de desvio de presentes de alto valor. O ministro Alexandre de Moraes autorizou a operação que teve como alvos quatro indivíduos: Mauro Cesar Barbosa Cid, seu pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente Osmar Crivelatti, e o advogado Frederick Wassef.
O leilão dos relógios de luxo
Os presentes em questão, que incluem relógios de marcas renomadas como Rolex e Patek Philippe, foram levados a leilão em Nova York pela Fortuna Auctions. Com um valor inicial de US$ 50 mil, as peças luxuosas, no entanto, não encontraram compradores. O Rolex foi recomprado por Frederick Wassef.
Acusações e destino do dinheiro
Bolsonaro e os outros investigados são suspeitos de desviar presentes de alto valor que foram recebidos durante viagens internacionais e entregues por autoridades estrangeiras. Segundo a investigação, o dinheiro obtido com a venda desses presentes era convertido em espécie e incorporado ao patrimônio pessoal dos envolvidos. O esquema tinha como objetivo ocultar a origem, localização e propriedade dos valores, evitando assim o sistema bancário formal.
Declarações suspeitas
Mauro Cid, um dos alvos da operação, foi citado em relatórios da Polícia Federal discutindo métodos para movimentar o dinheiro obtido, preferencialmente em espécie, para evitar qualquer forma de rastreamento.
O poder de Bolsonaro mesmo sob ameaça de prisão
Enquanto as investigações se intensificam, a imprensa tem abordado, de forma cautelosa, a possibilidade real de prisão de Jair Bolsonaro. No entanto, essa discussão não é apenas um tabu na mídia, mas também um dilema para o Partido dos Trabalhadores (PT). O receio é palpável: qualquer movimento em direção à prisão do ex-presidente poderia inflamar ainda mais sua base de apoiadores, tornando-o um mártir político.
O PT se encontra em uma encruzilhada. Bolsonaro tornou-se uma espécie de “fantasma” que assombra continuamente o Palácio do Planalto. Sua habilidade de levantar R$17 milhões em doações é uma prova contundente de sua influência e poder de mobilização, algo que qualquer partido político consideraria intimidante.
O termo “bolsonaro pode ser preso” atingiu seu pico de interesse no Google Trends no último dia 18 de agosto, com uma pontuação máxima de 100. Isso indica que o público está altamente engajado e atento às possíveis ramificações legais para o ex-presidente.
Em um cenário político já polarizado, o PT enfrenta uma decisão delicada: apoiar ou não ações que possam levar à prisão de Bolsonaro. Com o risco de reforçar a popularidade do ex-presidente, o partido se vê em um impasse que vai além da estratégia política, entrando no campo da consciência eleitoral.
O cenário legal para Bolsonaro é um labirinto de complexidades e incertezas. Até agora, a maior parte das ações legais contra ele tem sido indiretas, focadas em indivíduos de seu círculo próximo.
O “elefante na sala” continua a ser uma presença inegável na política brasileira, desafiando os esforços do PT e de outros adversários para neutralizá-lo.