Brasil, 2 de dezembro de 2025
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Desafios para o bolsonarismo com a prisão de Jair Bolsonaro

A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro traz incertezas para o futuro político do bolsonarismo nas eleições de 2026.

A prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, marcada para coincidir com o fim dos prazos para recursos em sua condenação no caso da trama golpista, coloca os aliados do ex-presidente frente a um cenário desafiador. A dúvida sobre como organizar-se para as eleições de 2026 sem sua liderança é um tema amplamente discutido entre cientistas políticos e antropólogos que estudam o bolsonarismo desde 2018. Para eles, a privação de liberdade pode não apenas impactar o papel de Bolsonaro como cabo eleitoral, mas também aumentar o risco de fragmentação entre seus seguidores.

1. A mobilização da base bolsonarista sob a sombra da prisão

A cientista política Camila Rocha, diretora do Centro para Imaginação Crítica do Cebrap, destaca que a presença física de Bolsonaro sempre foi uma ferramenta importante para atrair público em eventos bolsonaristas. Com a possibilidade de sua transferência para o regime fechado, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) confirme essa decisão, a impressão de que sua imagem está “sumindo” pode se intensificar. Ao contrário da situação de Lula em 2018, que recebeu apoio na sua prisão, Bolsonaro enfrenta uma realidade diferente, já que sua saúde é precária e a falta de apoio internacional é notável.

Desde que foi imposta a prisão domiciliar em agosto, especialistas notaram uma dificuldade crescente em mobilizar a base de apoiadores. A restrição à interação com aliados e à utilização das redes sociais, onde Bolsonaro costumava se conectar diretamente com seus seguidores, contribui para esse fenômeno. A situação é preocupante, pois, conforme ressaltado pelo antropólogo David Nemer, o número de menções a Bolsonaro em grupos de WhatsApp tem diminuído, refletindo a apatia crescente entre seus militantes.

2. O capital político de Bolsonaro em risco

De acordo com Guilherme Casarões, coordenador do Observatório da Extrema-Direita, o futuro político de Bolsonaro e seu papel como cabo eleitoral dependerá da maneira como seu entorno reagir à situação da prisão. Se isso resultar em uma radicalização das posições, a viabilidade do bolsonarismo poderá ser ameaçada. Adicionalmente, a antropóloga Isabela Kalil alerta para o risco de Bolsonaro perder seu capital político por não ter indicado um sucessor, o que torna a situação do bolsonarismo ainda mais delicada.

Histórias similares na política brasileira, como a de Lula em 2018, mostram que a capacidade de definição de um sucessor pode ser crucial. Enquanto Lula tinha Fernando Haddad já como seu indicado, Bolsonaro deixou seus eleitores sem uma direção clara. Esse silêncio pode ser sentido como abandono por parte de seus apoiadores, o que aumenta a incerteza sobre seu legado e o futuro do bolsonarismo.

3. O futuro do bolsonarismo sem Bolsonaro

A permanência do bolsonarismo como um fenômeno eleitoral está atrelada à habilidade dos familiares de Bolsonaro em se posicionarem como sucessores. A analogia com o “peronismo” na Argentina ressalta essa ideia de continuidade em torno de uma figura central. A falta de uma liderança forte fora do círculo íntimo de Bolsonaro, conforme apontado por Casarões, pode resultar em fragilidade para o movimento.

A discussão gira em torno da necessidade de um novo nome que possa liderar o movimento, visto que, sem um familiar à frente, o bolsonarismo pode começar a declinar. Kalil indica que, ainda que a “bolsonarização” da política permaneça, isso pode se distanciar da figura de Bolsonaro e passar a ser mais sobre uma forma de comunicação que, até o momento, se revelou eficiente nas urnas.

4. A segurança como foco nas eleições de 2026

Os especialistas sugerem que as pautas que dominarão as eleições de 2026 serão determinadas pelas características dos candidatos. A agenda de segurança pública pode se tornar mais proeminente do que a pauta de costumes, que, embora relevante, pode enfrentar concorrência. Camila Rocha destaca que candidatos ao Legislativo continuarão explorando temas conservadores, como a redução de direitos relacionados a questões LGBTQIA+ e abortos, enquanto outros priorizam a segurança pública.

Com operações de segurança extremas, como a recente no Rio de Janeiro, que resultou em um número elevado de mortes, há um sinal claro sobre a crescente relevância dessa pauta para a direita em 2026. David Nemer adverte, no entanto, que a agenda moral continua a ser a cola que une diversos segmentos da direita brasileira, o que poderá se manifestar fortemente nas próximas eleições.

Assim, a prisão de Jair Bolsonaro acentua um cenário repleto de incertezas para o futuro do bolsonarismo e sua capacidade de se organizar para as eleições de 2026. A falta de um plano sucessório claro e a radiação da imagem de seu líder podem criar novas dinâmicas em um campo político em constante transformação.

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