Brasil, 10 de outubro de 2025
BroadCast DO POVO. Serviço de notícias para veículos de comunicação com disponibilzação de conteúdo.
Publicidade
Publicidade

A politização nas igrejas evangélicas e a migração de fiéis

A pesquisa recente revela uma conexão entre a politização das igrejas evangélicas e a migração de fiéis entre denominações.

Recentemente, um estudo do cientista político Alberto Carlos Almeida apresentou resultados que revelam um fenômeno crescente nas igrejas evangélicas brasileiras: a politização dos templos. Com base em uma pesquisa realizada com 1.602 pessoas, o levantamento traz à tona questões sobre como a interferência política nos cultos pode estar influenciando a migração de fiéis entre diferentes denominações religiosas.

A politização nas igrejas evangélicas

Conforme aponta a pesquisa, a incidência de pastores e líderes religiosos que utilizam espaços religiosos para propagar ideais políticos e solicitar votos é significativamente mais alta do que entre padres católicos. Em junho, o IBGE anunciou que 26,9% da população brasileira se declara evangélica, enquanto várias agências de pesquisa já estimavam esse número em mais de 30%.

Os dados levantados pela pesquisa de Almeida indicam que essa politização dentro das igrejas evangélicas é uma prática comum. Metade dos evangélicos, tanto pentecostais quanto não pentecostais, afirmou já ter testemunhado discussões políticas em cultos. Em contraste, apenas 38% dos católicos praticantes relataram experiências semelhantes.

O impacto da politização nos cultos

Quando se trata de pedir votos para um candidato durante as celebrações religiosas, os números são ainda mais expressivos. Quarenta e um por cento dos pentecostais e 27% dos não pentecostais confirmaram que essa prática já ocorreu em cultos. Para os católicos, esses números são bem mais baixos, com apenas 15% dos praticantes e 17% dos não praticantes relatando experiências semelhantes.

Outras formas de politização foram observadas, como a apresentação de candidatos em cerimônias religiosas. Um terço dos evangélicos afirmou já ter visto essa prática em cultos, contrastando com apenas 17% entre os católicos praticantes e 13% entre os não praticantes.

Migração de fiéis entre denominações

Além de discutir a politização ao longo das celebrações, a pesquisa também destacou um movimento significativo de migração de fiéis nas últimas décadas. Nos últimos dez anos, 35% dos entrevistados deixaram de se declarar católicos. O fato mais surpreendente, segundo Almeida, é a taxa de migração entre evangélicos: 16% de pentecostais e 8% de não pentecostais mudaram de denominação, mesmo com o crescimento geral do segmento.

Embora a pesquisa não tenha questionado diretamente se essa politização nos cultos incomoda os fiéis, sinais indicam que um número crescente de pessoas tem se distanciado de afiliações religiosas tradicionais. Muitos estão se identificando como “desigrejados” ou “sem religião”, o que evidencia a fluidez da afiliação religiosa no Brasil atual.

A competição entre as denominações religiosas

O estudo também revela que a competição interna entre denominações evangélicas tem se intensificado. Aproximadamente 50% dos entrevistados relataram já terem sido convidados a ingressar em novas religiões, sendo 33% desses convites recebidos somente no último ano. Entre 1990 e 2019, o Brasil registrou um aumento de 543% no número de templos, saltando de 17.033 para 109.560, um crescimento que reflete a busca por novas identidades religiosas.

A religiosidade tradicional, que antes mantinha as pessoas unidas por longos períodos, parece estar em transformação. Historicamente, as crianças eram socializadas nas tradições religiosas de suas famílias e mantinham essas afiliações ao longo da vida. Contudo, a nova pesquisa indicou que essa concepção está mudando, com muitos buscando novas experiências e valores que resonam mais com seus ideais pessoais.

Reflexões finais

Os dados apresentados por Almeida definem um cenário de mudanças importantes nas práticas religiosas no Brasil. A crescente politização das igrejas evangélicas e a migração de fiéis representam um quadro em evolução que merece atenção. À medida que os espaços religiosos tornam-se locais de debate político, a dinâmica de pertencimento e identificação religiosa pode ser redefinida, suscitando novas questões sobre o futuro das práticas religiosas no país.

Essas transformações não apenas refletirão a diversidade cultural e política do Brasil, mas também contribuirão para moldar o panorama das religiões no futuro o que promete impactos significativos no espaço público e na sociedade como um todo.

PUBLICIDADE

Institucional

Anunciantes