A condenação de Jair Bolsonaro começa a traçar um novo cenário político e afetivo no Brasil. Após anos de polarização extrema, onde os ânimos se acirraram entre eleitores do ex-presidente e de seu adversário, Luiz Inácio Lula da Silva, muitos jovens brasileiros demonstram um desejo por novas direções. Uma parcela do eleitorado, sem ânimo de revanche, busca cicatrizar feridas e caminhar em busca de um novo equilíbrio.
A desilusão e o cansaço pela polarização
Uma pergunta comum ressoa entre os eleitores: as brigas políticas são fruto de questões profundas ou apenas reflexos de egos inflacionados e da falta de disposição para um diálogo verdadeiro? Uma jovem de 27 anos, que votou em Bolsonaro em 2022, afirma: “Parece que é uma disputa de beleza, de egos, vestem personagens, não vêm propostas.” Sua opinião ecoa o sentimento de muitos que estão cansados de um embate que parece não ter fim. Um outro jovem, de 34 anos, que optou por votar nulo no último pleito, complementa: “São a mesma coisa Lula e Bolsonaro, se maquiam de personagens.”
Pequenas diferenças e a polarização
O dilema atual reflete o conceito psicanalítico do “narcisismo das pequenas diferenças”. Essas “pequenas diferenças”, que para alguns se tornam enormes, funcionam como uma polarização que reforça a identidade de grupos opostos, levando a um cenário onde cada lado defende “verdades absolutas”. Quando não há espaço para debate, o diálogo se torna impossível e as divisões se aprofundam.
Verdades na arena política pós-condenação de Bolsonaro
- Alguns eleitores têm a sensação de que o embate político é interminável: “não tem jeito mesmo, se ficar no meio perde, como já aconteceu com Marina, Ciro e Amoedo”, afirmam, acreditando em uma calmaria temporária.
- Os bolsonaristas, por sua vez, estão mais confortáveis com a manutenção da polarização.
- Eleitores com mais de 50 anos demonstram um empenho na defesa de suas posições de maneira mais intensa, contribuindo para um clima mais acirrado.
Essa percepção, no entanto, muda quando se observa a postura dos jovens. Uma paulista de 29 anos, que votou em Bolsonaro em 2018 e em Lula em 2022, destaca que as manifestações do 7 de Setembro mostraram uma forte presença de pessoas mais velhas, que parecem mais inflamadas, enquanto sua geração busca um equilíbrio sem o radicalismo. “A gente quer paz, Lula ganhou, é sair na rua e seguir a vida”, menciona.
Buscando um novo caminho
As novas gerações estão se distanciando das disputas acirradas do passado e clamam por um futuro mais pacífico e produtivo. Essa perspectiva foi moldada, em parte, pelas provas apresentadas durante o julgamento de Bolsonaro, que convenceram eleitores moderados sobre a necessidade de que as leis prevaleçam. Além disso, a discussão sobre o tarifaço trouxe um elemento de consenso, permitindo um diálogo mais construtivo entre diferentes grupos políticos.
A situação política do Brasil é frequentemente descrita como uma “bomba” ou um “ponto de interrogação”. Porém, muitos jovens expressam um novo conforto emocional, sentindo que a justiça está sendo feita e que isso diminui a tensão que antes dominava o cenário. “Depois da condenação, não tem aquelas discussões acirradas, vejo muita gente caindo na real, que não tem volta”, afirma um jovem de Joinville, que navegou pelas águas turbulentas da política ao apoiar diferentes candidatos ao longo dos anos.
A busca por uma direita mais humanizada
Para aqueles que ainda se consideram indecisos, a ideia de uma direita “mais humanizada”, que abandone posturas extremas e radicais, começa a ganhar força. A pergunta que paira no ar é: será que existe espaço para essa evolução? Um caminho que considere as experiências passadas e, ao mesmo tempo, busque construir uma política mais inclusiva e menos polarizada torna-se essencial para o futuro do Brasil.
Em um país que anseia por renovação, as vozes de uma nova geração estão se levantando em busca de um diálogo mais aberto e produtivo, onde possamos deixar de lado as brigas e focar na construção de um futuro mais promissor para todos.
Eduardo Sincofsky é psicólogo, mestre em Análise da Opinião Pública e trabalha com pesquisa qualitativa há mais de 30 anos. É diretor do Projeto Plaza Publica, barômetro que mede qualitativamente a agenda do país de maneira periódica.