A dois anos de sua morte e a um mês do lançamento, em Cabo Verde, do livro “Humbertona: minha vida, o tempo & o modo”, é tempo de relembrar Humberto Bettencourt Santos, uma figura multifacetada que se destacou especialmente na música. Fátima Bettencourt, autora do livro, juntamente com os editores Filinto Elísio e Márcia Souto, enfatiza a importância de sua contribuição à luta pela libertação do país, destacando seu amor e dedicação à arte.
A vida e a obra de Humbertona
Humberto Bettencourt Santos, carinhosamente conhecido como Humbertona, deixou uma marca inesquecível na música cabo-verdiana. Sua maestria no violão é tão singular que até hoje se fala em tocar “à moda de Humbertona”. Contudo, sua vida foi muito além da música. Fátima, em sua biografia, ressalta que ele era um homem exemplar, cuja humildade e generosidade prevaleceram mesmo diante de suas grandes conquistas artísticas e profissionais.
O livro que será lançado no próximo dia 14 de outubro na capital, Praia, e no dia 16 no Mindelo, não é apenas um relato da vida de Humberto, mas também uma compilação de narrações e lembranças de pessoas que o conheceram. A obra, estruturada em diversos capítulos, reflete diferentes fases da vida do artista, dando visibilidade a seus talentos e ao seu caráter.
Um artista completo
Dentre as diversas facetas de Humbertona, destaca-se sua trajetória como diplomata, gestor e político, onde se destacou como deputado e embaixador de Cabo Verde nas Nações Unidas. A paixão pela Nina, sua nação natal, foi um constante na sua vida e ação, como menciona Filinto Elísio em uma de suas crônicas. Humbertona contribuía não só com sua arte, mas também com sua visão e compromisso social.
A obra musical de Humbertona inclui canções que se tornaram parte da identidade cultural do Cabo Verde. Entre seus trabalhos mais conhecidos está a morna “Papá Joquim Paris”, que se tornou emblemática na voz de Cesária Évora. Para o músico Vasco Martins, Humbertona trouxe uma elegância e sutileza únicas ao violão, tornando sua interpretação inconfundível.
A importância da biografia
Ao escrever a biografia de seu irmão, Fátima segurou um papel importante: o de preservar a memória de Humberto para as futuras gerações. Segundo ela, o livro é uma forma de perpetuar sua humildade, seus valores e sua capacidade de tocar os corações das pessoas. A inclusão de testemunhos de amigos, familiares e admiradores traz uma dimensão ainda mais rica à narrativa, permitindo que os leitores conheçam Humbertona em suas múltiplas facetas.
Desde seus primeiros passos na música, Humberto mostrou um notável talento. Nascido em 17 de fevereiro de 1940 em Chã de Manilin, na ilha de Santo Antão, ele se mudou, ainda pequeno, para São Vicente. Durante sua juventude, aprendeu a tocar violão e rapidamente conquistou o público, estreando em grandes palcos a partir de 1957.
Legado e reconhecimento
O legado de Humberto não se limita apenas à sua discografia, que é extensa e rica, com álbuns que incluem “Morna ca so dor”, “Humbertona ma Chico Serra”, e “Lágrimas e dor – Mornas dedilhadas por Humbertona”. Sua influência vai além da música, permeando as artes e a cultura do país, reconhecido como um dos pilhares da identidade cabo-verdiana.
Em 1975, Humbertona foi eleito deputado, marcando sua presença em aspectos políticos cruciais da história do Cabo Verde. Ele também lutou pela independência do país durante seus anos na Bélgica, associando-se ao PAIGC e participando ativamente de movimentos que buscavam a autonomia de Cabo Verde. Essa vertente política só realça a figura emblemática que ele se tornou.
Humbertona não foi apenas um artista; foi um cidadão que dedicou sua vida à música, à sua terra e às suas gentes. O lançamento da biografia “Humbertona: minha vida, o tempo & o modo” é, portanto, uma comemoração de sua contribuição imensurável e um convite para que todos conheçam e mantenham vivo o seu legado.
Estamos à espera do lançamento dessa obra que promete não apenas contar a história de Humberto Bettencourt Santos, mas também inspirar futuras gerações a honrar a rica cultura cabo-verdiana.