Na última segunda-feira (8), um tenso bate-boca entre o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), e o deputado Rogério Correia (PT-MG) interrompeu a sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS. O desentendimento aconteceu durante o depoimento do ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), e expôs as divisões políticas em meio a um grave escândalo envolvendo a Previdência.
O início da tumultuada sessão
A confusão começou quando o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) questionou Lupi sobre a renovação de contratos durante sua gestão, particularmente em relação às entidades responsáveis pelos descontos na folha de pagamento de aposentados e pensionistas. O ex-ministro, no entanto, se recusou a responder, o que levou os deputados da oposição a criticar sua postura.
“Quem assina é responsável pelos seus atos, senhor ministro? Sim ou não?”, questionou Hattem.
Após a negativa de Lupi, uma série de gritos começou a ecoar no plenário. Correia disparou “Bolsonaro vai para a cadeia”, enquanto Sóstenes respondeu: “Você respeita o Bolsonaro”. A atmosfera ficou ainda mais tensa quando outros parlamentares gritaram para que os representantes se respeitassem, revelando a polarização política que permeia a casa.
Escândalo do INSS e suas repercussões
A discussão acalorada se originou de um escândalo mais amplo que vem sendo investigado desde dezembro de 2023. O escândalo do INSS, revelado pelo portal Metrópoles, aponta que a arrecadação das entidades que descontam mensalidades de aposentados aumentou significativamente, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, apesar de várias instituições estarem enfrentando processos judiciais por fraude.
Essas denúncias levaram à abertura de uma investigação pela Polícia Federal, que resultou na Operação Sem Desconto, instaurada em abril. O escândalo culminou nas demissões de Lupi e do então presidente do INSS, Alessandro Steffanutto, que foi afastado no meio do escândalo.
Após a confusão, retorno ao diálogo
Em meio aos ânimos exaltados, o presidente da CPMI, Carlos Viana (Cidadania), decidiu não suspender a sessão, aguardando que a tensão diminuísse antes de permitir que Marcel retomasse sua fala. Assim que a situação se acalmou, ele acusou Lupi de mentir sobre sua falta de conhecimento em relação à magnitude da fraude, afirmando que o ex-ministro “prevaricou”.
Depois do tumulto, a sessão foi interrompida para que Lupi pudesse se consultar com seu advogado. Posteriormente, ele concordou em responder às perguntas de Marcel, reiterando que “ninguém pode ser responsabilizado por atos de terceiros”. Essa declaração se tratou de uma tentativa de defender-se das acusações em um momento de intensa pressão.
Esclarecimentos e convocações na CPMI
Carlos Lupi foi o primeiro ex-ministro a depor na CPMI do INSS. Ele gerou divisões dentro do seu partido, o PDT, cuja bancada na Câmara decidiu se afastar da base governista enquanto a do Senado permaneceu aliada. O convite para o ex-ministro e outros membros da antiga administração foi uma estratégia pensada pela cúpula da CPMI para amenizar a pressão política, já que convidados têm menos obrigações do que aqueles convocados.
Além de Lupi, outros 12 ex-presidentes do INSS foram convocados a depor, incluindo Steffanutto. A continuidade das investigações e os desdobramentos dessas audiências refletem o clima crítico em que se encontra a política brasileira, em um cenário marcado pela polarização e pelo questionamento da integridade de figuras públicas.
O desfecho dessa sessão tumultuada deixa um ar de incerteza sobre os próximos passos da CPMI e o impacto que os resultados das investigações terão sobre o governo e a sociedade.
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