No sertão do Araripe, em Santa Cruz (PE), o agricultor Chico Peba dedica-se há décadas à preservação de sementes crioulas, que garantem a continuidade da cultura local e a resistência às secas frequentes da região.
Sementes tradicionais que contam histórias
Em duas mesas improvisadas em seu armazém, Chico Peba exibe uma variedade de sementes, como feijão trivicía, feijão andu, feijão barrigudo, milho dente de cavalo, milho ligeiro, entre outras. Esses grãos, muitas vezes transmitidos de geração em geração, têm um valor além do nutritivo — representam a história, a cultura e a identidade das comunidades do sertão.
Sementes que resistem ao clima
De acordo com Chico, muitas dessas sementes foram adaptadas ao clima seco e às chuvas irregulares da região. O milho dente de cavalo, que veio da Bahia, é um exemplo de uma variedade que se ajustou às condições locais, garantindo uma produção confiável.
Ele também cultiva o milho ligeiro, que cresce rapidamente e oferece uma colheita em caso de chuva precoce, além do milho tardio, que assegura produtividade mesmo com chuvas atrasadas. O milho médio, com desenvolvimento intermediário, é uma opção equilibrada para diferentes condições climáticas.
Importância cultural e ecológica das sementes crioulas
As sementes preservadas por Chico Peba representam não apenas alimentos, mas também uma conexão com a história familiar e regional. Segundo ele, manter essas sementes vivas é uma forma de combater a dependência de sementes híbridas e de fomentar a autonomia agrícola do sertanejo.
O agricultor destaca o papel dessas sementes na manutenção da biodiversidade e na resistência às mudanças ambientais. “São sementes que vivem aqui e resistem às secas, às mudanças do clima. São um patrimônio que herdamos e que precisamos proteger”, afirma.
Desafio da preservação
Apesar da importância, a preservação dessas sementes enfrentam desafios, como a modernização agrícola que prioriza espécies comerciais, e a perda do saber tradicional. Ainda assim, Chico Peba e outros agricultores continuam a cultivar e trocar essas sementes, garantindo a sobrevivência de uma cultura que é símbolo de resistência.
Relevância para o futuro da agricultura no sertão
Especialistas ressaltam que ações como a de Chico Peba são essenciais para garantir a sustentabilidade e a preservação da diversidade agrícola no Brasil. A diversidade de sementes cria uma matriz mais resiliente diante das mudanças climáticas, além de fortalecer a cultura regional.
Segundo estudo do Ministério da Agricultura, a conservação de sementes crioulas é fundamental para fortalecer pequenos agricultores e promover a soberania alimentar, especialmente em regiões vulneráveis ao clima.
Persistir na preservação dessas sementes tradicionais é uma forma de manter viva uma cultura que dialoga com a história e a sobrevivência do sertão do Araripe, deixando um legado de resistência às futuras gerações.