Uma grave situação no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Taquaritinga, São Paulo, deixou 13 pacientes idosos com lesões irreversíveis na visão. O incidente ocorreu durante um mutirão de cirurgias de catarata e resultou na cegueira de alguns dos pacientes devido à utilização inadequada de substâncias durante os procedimentos. O Ministério Público do estado está em busca de reparação, demandando uma indenização de R$ 3 milhões do governo de São Paulo e da Fundação Santa Casa de Franca, responsável pela administração do AME.
Detecção de falhas graves nas cirurgias
O promotor de Justiça Ilo Wilson Marinho Gonçalves informou que a ação judicial é necessária para ressarcir a sociedade pelas graves falhas cometidas durante os atendimentos. “O Estado precisa se conscientizar de que erros dessa natureza não podem se repetir. É extremamente lamentável o que aconteceu”, destacou o promotor, acrescentando que o valor pleiteado seria utilizado para melhorar a prestação de serviços de saúde na região de Ribeirão Preto.
De acordo com a sindicância realizada pela própria Fundação Santa Casa de Franca, um erro crítico cometido na hora de fechar o corte da cirurgia foi identificado: os profissionais utilizaram uma substância inadequada, a clorexidina, que é destinada a assepsia superficial da pele e não pode entrar em contato com os olhos. Esta negligência levou à Síndrome Tóxica do Segmento Anterior (TASS), provocando inflamações severas e a queda da acuidade visual dos pacientes.
Testemunhos de desesperança entre os afetados
Os relatos dos pacientes são de desespero e perda de esperança. “Minha vida parou, perdi o trabalho e me sinto inútil”, afirmou uma das vítimas, que teve a visão do olho direito comprometida. Outro paciente manifestou que nunca imaginou que um procedimento simples como uma cirurgia de catarata pudesse resultar em tal tragédia pessoal. As queixas de desconforto e dor iniciaram imediatamente após as operações, mas, segundo eles, foram desconsideradas pela equipe do AME.
Irregularidades na administração do AME
Durante a investigação, o Ministério Público também identificou outras falhas administrativas sérias no AME, que incluem troca de medicamentos e a falta de seguimento dos protocolos de esterilização e uso de substâncias apropriadas. Além disso, houve evidências de que alterações informais no protocolo médico ocorreram sem a devida documentação ou transparência, o que contribuiu para a falta de comunicação com os pacientes sobre os riscos dos procedimentos.
Os problemas não se limitam apenas às cirurgias; a estrutura física do AME também foi questionada, com referência a condições inadequadas, como cadeiras de tecido que não permitem a devida higienização e estão deterioradas.
Medidas e responsabilidades tomadas
Atualmente, as cirurgias no AME de Taquaritinga estão suspensas, a partir de fevereiro de 2024, após as denúncias feitas pelos pacientes. O Ministério Público requereu que a Justiça mantenha essa suspensão até que todas as irregularidades sejam resolvidas. Além do retorno de melhorias, a instituição também solicita coberturas médicas e psicológicas para os pacientes afetados e a realização de transplantes de retina ou próteses oculares, se necessário.
A Secretaria de Estado da Saúde informou que todos os profissionais envolvidos nos atendimentos foram afastados e que os pacientes estão recebendo acompanhamento especializado no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Uma nova gestão é esperada no AME, com a promulgação de uma sindicância em todas as unidades geridas pela Organização Social de Saúde (OSS) Santa Casa de Franca, buscando assegurar que incidentes similares não aconteçam novamente.
Consequências para a equipe de saúde
O inquérito criminal conduzido pela Polícia Civil ainda está em andamento, e os membros da equipe médica implicados nas operações são apontados como responsáveis pelos danos. O Ministério Público ressaltou ainda que a equipe não tinha permissão para se manifestar sobre as situações aos pacientes, o que gerou uma quebra na confiança do público no serviço de saúde.
Essa situação alarmante traz à luz questões sérias sobre a atuação de instituições de saúde e a necessidade urgente de garantir a segurança e o cuidado devido aos pacientes, em especial os mais vulneráveis, como os idosos. A expectativa é de que a justiça seja feita e que mudanças efetivas sejam implementadas para beneficiar não apenas as vítimas desse caso, mas toda a população atendida pela rede de saúde pública.
Para mais informações sobre a situação, acesse g1 Ribeirão e Franca.