A Operação Manto de Engano, realizada na última terça-feira pela Polícia Civil do Rio, resultou na identificação de dois suspeitos com uma trajetória marcada por cargos no serviço público e conexões com personalidades influentes da política fluminense. Os envolvidos, Luís Maurício Martins Gualda e Alexandre Ceotto André, são investigados por um furto “cinematográfico” ocorrido em fevereiro passado em um apart-hotel em Niterói.
O crime e os envolvidos
Luís Maurício Martins Gualda, ex-assessor parlamentar da Câmara do Rio, é um dos principais nomes na investigação. Já Alexandre Ceotto André, ex-subsecretário de Relações Institucionais durante o governo de Wilson Witzel e ex-diretor da Rio Metrópole, é considerado o mentor do crime. As investigações indicam que Gualda invadiu um apartamento utilizando uma máscara de silicone realista, enquanto Ceotto seria o arquétipo intelectual por trás do plano. As câmeras de segurança registraram Gualda vestindo um terno, óculos e luvas, e saindo em apenas 16 minutos com oito relógios de luxo, avaliados em cerca de R$ 80 mil.
Após confissão de sua participação no furto, Gualda foi demitido do cargo em que atuava no gabinete do vereador Rogério Amorim (PL), onde recebia um salário mensal líquido de R$ 15,8 mil. “A conduta criminosa dele é inadmissível e não pode ser tolerada em hipótese alguma”, declarou Amorim em nota, informando que a demissão ocorreu assim que tomou conhecimento do caso.
Histórico e ligações políticas
Além de seus laços com o serviço público, Gualda possui um escritório de advocacia registrado desde 2019 e é sócio de uma empresa voltada a investimentos em criptomoedas, aberta no início de 2023. Ele doou R$ 8 mil à campanha do deputado estadual Rodrigo Amorim (União), irmão de Rogério, em 2022. Isso mostra as conexões com o mundo político, que vão além do próprio cargo ocupado.
Enquanto isso, Alexandre Ceotto permanece foragido e é considerado o cérebro da operação. Ele teve uma trajetória profissional que o levou a cargos estratégicos no governo do estado e manteve laços estreitos com os irmãos Amorim ao longo da última década. Em um momento de forte ruptura, Amorim comentou: “Não tenho mais nenhum contato com este indivíduo. Meu desejo é que ele apodreça na cadeia ou no cemitério.” Uma afirmação forte que demonstra a indignação com a situação.
Curiosamente, mesmo após o rompimento público, Ceotto fez uma doação de R$ 10 mil à campanha de reeleição de Amorim em 2022, ano em que foi nomeado diretor da Fundação Rio Metrópole, vinculada à Secretaria da Casa Civil. Ele ocupou o cargo até novembro de 2023, quando foi exonerado e desde então passou a atuar como empresário no setor de eventos. A Fundação Rio Metrópole não se manifestou quando contatada pela imprensa.
Investigação e desdobramentos do caso
O caso está sob investigação da 76ª DP (Niterói), que apura o arrombamento do apartamento localizado no Hotel Orizzonte by Atlântica, localizado no bairro de Gragoatá. Durante o depoimento, Gualda revelou que ele e Ceotto planejavam dividir o valor obtido com a venda dos relógios furtados, o que evidencia a premeditação do crime.
Apesar da gravidade da situação, até o momento, nem Gualda nem Ceotto retornaram os contatos realizados pela imprensa. A repercussão do caso levanta questões sobre a integridade de figuras públicas e a relação delas com atos de corrupção e crime organizado. O desdobramento da operação e possíveis consequências legais ainda serão acompanhados, mas o episódio já gerou uma onda de indignação entre os cidadãos, que clamam por justiça.
É um alerta sobre como conexões políticas podem, em alguns casos, cruzar a linha da legalidade e ética, despertando a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre a política local e seus agentes.