Três anos após a união de Aliansce Sonae e brMalls, a Allos se destaca como o maior grupo de shoppings do Brasil e continua a crescer, mesmo diante de um cenário econômico desafiador. Em entrevista ao GLOBO, Rafael Sales, CEO da companhia, compartilha suas perspectivas sobre o mercado e a importância da acessibilidade nas operações.
Crescimento mesmo em tempos difíceis
No primeiro trimestre deste ano, a Allos registrou um lucro de R$ 242,1 milhões, quatro vezes superior ao mesmo período de 2024. Apesar do otimismo, Sales classifica 2025 como um ano de resiliência, uma vez que o cenário de incerteza econômica tem limitado a capacidade de expansão da empresa.
“Se tivéssemos um cenário menos volátil de juros e expectativas, certamente poderíamos lançar mais expansões”, declara Sales. Ele menciona que a empresa já lançou três novos shoppings em Campo Grande, Tijuca e Maceió, que têm se mostrado muito rentáveis. Contudo, as expansões são menores do que poderiam ser, devido à cautela em relação aos investimentos em um ambiente econômico incerto.
A importância da acessibilidade
Um dos projetos que mais entusiasmam o CEO é a criação de um protocolo próprio de acessibilidade para a Allos. Após um acidente em 2018 que o deixou tetraplégico, Sales passou a ter uma nova perspectiva sobre o que significa ser verdadeiramente acessível. “Cumprir a regra muitas vezes não é suficiente. Aprendi que a angulação de uma rampa, por exemplo, pode ser perigosíssima ou até intransponível”, observa.
Ele explica que o objetivo é até 2030 criar um índice de acessibilidade, que será desenvolvido em parceria com uma entidade renomada. “Queremos que não apenas os shoppings, mas também as lojas sejam acessíveis. Sabemos que a transformação não acontecerá da noite para o dia, mas é uma jornada necessária”, destaca.
Desafios do mercado e adaptação às mudanças
O cenário econômico atual, marcado por aumentos nas taxas de juros e incertezas, torna a adaptação a novos modelos de negócio essencial. No entanto, Sales acredita que os shoppings do futuro devem ser “fígital”, ou seja, uma integração entre o físico e o digital, tornando a experiência do consumidor mais fluida e interativa.
“Temos que ajudar os lojistas a entender que, quando as pessoas vão ao shopping, podem receber informações e estímulos por meio de promoções e comunicações eficientes”, ressalta. Ele aponta que a experiência de compra deve ser cada vez mais conectada e personalizada, promovendo um ambiente de compras mais dinâmico e atrativo.
Um futuro promissor no varejo
Ainda que a Allos enfrente desafios, Sales vê oportunidades, especialmente no agronegócio e em parcerias estratégicas. Recentemente, a empresa lançou o Karg, um serviço de recarga de veículos elétricos, e a Helloo, uma plataforma de mídia digital que contribui com 6% da receita da Allos, além de levar publicidade aos 17 aeroportos da Aena no Brasil.
Além disso, a empresa está investindo em programação voltada para fidelização dos clientes, com recompensas e ofertas exclusivas para quem participa de seus programas de relacionamento. “Quem se engaja no programa de fidelidade vai 20% mais ao shopping que antes”, revela Sales, reforçando a importância do relacionamento com os consumidores.
O aumento da ocupação dos shoppings e a baixa inadimplência são positivos, mas o CEO permanece cauteloso sobre novas expansões. Ele observa que, mesmo em um cenário desafiador, a liderança da Allos está comprometida em implementar mudanças significativas, como melhorar a acessibilidade e diversificar sua oferta de serviços.
Os shoppings, como o Leblon e o Villa-Lobos, têm respondido positivamente às inovações e melhorias em suas operações, mas Sales entende que a jornada de transformação da empresa será longa e contínua. “Estamos sempre avaliando como podemos melhorar e como podemos criar um ambiente mais inclusivo e acolhedor para todos”, finaliza.
Com um olhar focado no futuro, a Allos não apenas busca a expansão de seus negócios, mas também um compromisso genuíno com a diversidade e a inclusão, um valor que, segundo Sales, não é apenas justo, mas também essencial para o sucesso empresarial no Brasil.
