Em uma estratégia ambiciosa que visa o fortalecimento e a expansão no mercado global de proteína animal, Marcos Molina, controlador e presidente dos conselhos de administração da Marfrig e da BRF, anunciou que a fusão entre as duas empresas torna mais concreto o plano de “redomiciliação” do conglomerado, ou seja, a transferência de sua sede para outro país. A operação, segundo ele, abre novas oportunidades na América do Norte, especialmente devido à presença significativa da Marfrig nos Estados Unidos através da National Beef.
A importância da National Beef no processo de redomiciliação
Durante uma conferência com acionistas na última sexta-feira (16), Molina destacou que a National Beef é fundamental para que o processo de redomiciliação seja viável. “As vantagens que isso inclui são evidentes, vantagens fiscais, vantagens de custo, captação,” disse ele. A empresa tem se preparado nos últimos anos para este cenário, o que mostra um planejamento estratégico bem mapeado e em execução.
Impacto da redomiciliação no setor de proteínas
A mudança de sede, que pode acontecer dentro do médio prazo, é cercada de vantagens, segundo especialistas. Entre os benefícios estão a geração de receitas em dólar e ganhos tributários, dependendo do estado nos Estados Unidos onde a companhia decidir se instalar. Enrico Cozzolino, sócio e head de Análise da Levante Investimentos, explicou que a mudança implica em uma alteração significativa na estrutura jurídica da empresa. “Se a empresa foi constituída no Brasil e sua sede é brasileira, ela é brasileira. Quando muda a sede, apesar da marca ser brasileira, a empresa passa a responder à legislação local,” afirmou Cozzolino.
O que significa ser uma empresa estrangeira?
Roberto Kanter, professor de MBAs da FGV, complementou que, do ponto de vista jurídico, a empresa deixa de ser brasileira, mas isso não afetará a administração cotidiana. “Ela se torna uma emissora estrangeira que controla subsidiárias brasileiras. Mas, na prática, isso não mexe com a gestão do ponto de vista administrativo: perde o direito de ser brasileira, mas de fato ela vai continuar sendo brasileira,” disse Kanter.
Sinergias e benefícios do acordo
Nos últimos anos, a Marfrig tem avançado na estratégia de diversificação geográfica, com um foco no aumento da eficiência operacional e produtos de valor agregado. As duas empresas já trabalhavam juntas para capturar sinergias, visando fortalecer sua presença global, criar uma plataforma multiproteína integrada e diversificar o portfólio. Molina também comentou sobre a criação da MBRF Global Foods Company, destacando o valor que a nova empresa trará aos acionistas através de operações mais eficientes e lucrativas.
A fusão, que foi formalizada através de um protocolo de entendimento, prevê uma troca de ações da BRF pela Marfrig, resultando em um faturamento combinado de R$ 152 bilhões, com 76% das receitas provenientes de mercados internacionais. Atualmente, essas empresas atendem cerca de 427 mil clientes em 117 países.
Projeções financeiras e assembleias
As sinergias esperadas com o acordo são significativas, com um impacto projetado de R$ 805 milhões no EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), sendo que entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões devem ser alcançados no primeiro ano. Além disso, a empresa espera economizar cerca de R$ 320 milhões anuais através da unificação das suas estruturas.
A BRF, após a fusão, será uma subsidiária integral da Marfrig, que adotará o novo nome de MBRF Global Foods Company. De acordo com o BTG Pactual, a criação dessa nova entidade a posicionará como a terceira maior potência global no setor de proteínas, atrás apenas da JBS e da Tyson, e ao lado do grupo chinês WH Group.
Próximos passos e deliberações
Os próximos passos implicam na convocação de assembleias extraordinárias de acionistas, previstas para o próximo dia 18 de junho, onde os investidores de ambas as empresas poderão deliberar sobre a fusão. Os acionistas da BRF, exceto a Marfrig, receberão 0,8521 ações ordinárias da Marfrig para cada uma ação ordinária da BRF que possuírem no momento da incorporação. A opção de receber até R$ 19,89 por ação como pagamento também será disponibilizada aos investidores da BRF.
Com essa fusão, ambas as empresas não apenas solidificam sua presença global, mas também visam devidamente responder às demandas de um mercado que está se tornando cada vez mais competitivo e desafiador no setor de proteína animal.