O escritor e ex-presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, esteve em destaque na Universidade de Pádua, onde participou do festival “Aproximações: Dizer e Desdizer o Mal”. Neste evento, ele deu uma conferência intitulada “Línguas, Literatura e Política em Cabo Verde”, que explorou a intersecção entre a literatura e a política em seu país. O festival, que ocorreu durante o mês de maio, oferece uma série de atividades culturais, incluindo apresentações literárias e cinematográficas, promovendo um diálogo entre acadêmicos, estudantes e a população local.
A importância do festival “Aproximações”
O festival é uma iniciativa da Universidade de Pádua, organizada pelos Departamentos de Ciências Biomédicas e de Estudos Linguísticos e Literários. O objetivo é unir diferentes áreas do conhecimento em uma abordagem multidisciplinar para enfrentar questões complexas como o câncer, ressaltando a importância da perspectiva humana na luta contra a doença. As datas de 6 e 7 de maio foram especialmente significativas, pois coincidiram com o Dia Mundial da Língua Portuguesa e os 50 anos de independência de quatro antigas colônias africanas de Portugal: Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Durante sua conferência, Fonseca abordou temas profundos que atravessam a cultura e a identidade cabo-verdiana, utilizando elementos como “o mel, o sal e o sol” para descrever a alma do arquipélago. Ele enfatizou a importância da língua portuguesa e da literatura para a construção da identidade nacional, além de refletir sobre a influência da política na criação literária.
Reflexões de Jorge Carlos Fonseca
Em entrevista ao programa da Rádio Vaticano “África em Clave Cultural: personagens e eventos”, Fonseca compartilhou suas impressões sobre o festival e comentou sobre o livro “História Global da Literatura Portuguesa”, que foi apresentado durante o evento. As suas análises colocaram em evidência a necessidade de celebrar e preservar a língua portuguesa e a literatura nos contextos africanos, um aspecto crucial na promoção da cultura e da identidade africana no cenário global.
Além de sua conferência, Jorge Carlos Fonseca teve a oportunidade de interagir com estudantes e docentes da universidade, promovendo um rico intercâmbio cultural. As discussões abordaram não apenas a literatura, mas também implicações sociais e políticas que a literatura pode ter no fortalecimento da democracia e dos direitos humanos.
Um legado literário e político
Jorge Carlos Fonseca é, sem dúvida, um dos mais destacados representantes da literatura cabo-verdiana e da democracia no país. Nascido em Mindelo em 1950, ele é um reconhecido político, acadêmico e escritor. Com dois mandatos como presidente do país, de 2011 a 2021, Fonseca sempre se posicionou como uma voz ativa em prol dos direitos humanos e da cultura.
Seu percurso literário começou cedo, com a participação em eventos de poesia. Fonseca é autor de várias obras literárias que refletem sua visão crítica sobre a sociedade e a política. Entre seus livros mais notáveis estão “Porcos em Delírio” e “A Sedutora Tinta de Minhas Noutes”, que demonstram sua profundidade poética e seu envolvimento com questões que tocam a alma do povo cabo-verdiano.
O festival em Pádua não apenas homenageou Fonseca, mas também serviu como uma plataforma para ressaltar a relevância da língua e da literatura portuguesa em um cenário global, promovendo um diálogo essencial sobre a identidade cultural africana.
Por meio de sua participação, Jorge Carlos Fonseca reafirmou a importância de eventos que celebram a cultura e a literatura, mostrando que a arte pode ser um poderoso instrumento de reflexão e mudança social. No final, o legado de Fonseca vai além da política e da literatura; é um testemunho do poder transformador da palavra e da necessidade de um diálogo aberto sobre as nossas realidades.
As palavras de Jorge Carlos Fonseca continuam a ecoar em Cabo Verde e em toda a comunidade lusófona, inspirando novas gerações a lutarem pela liberdade, pela cultura e pelos direitos de todos. O festival “Aproximações” na Universidade de Pádua é um dos muitos passos nessa caminhada pela valorização da literatura e da língua, reafirmando que a cultura é um bem necessário para a construção de sociedades mais justas.