O renomado economista e estudioso do desenvolvimento sustentável, Jeffrey Sachs, fez duras críticas à ideologia libertária durante uma palestra realizada na PUC-Rio, em colaboração com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Sachs, que é diretor do Centro para Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia, enfatizou a importância de uma abordagem ética e ideológica no combate à pobreza e à desigualdade social. Segundo ele, a mentalidade libertária, popular entre bilionários do setor de tecnologia nos Estados Unidos, propaga uma filosofia egoísta que divide a sociedade entre “makers” (fazedores) e “takers” (tomadores).
O papel da ética no desenvolvimento social
Sachs citou uma famosa frase do bispo Ambrósio de Milão, de 380 d.C., que diz: “Quando um rico dá ao pobre, ele não está dando algo ao pobre, está apenas devolvendo o que pertence ao pobre.” Essa visão, segundo ele, refuta os princípios do libertarianismo, que defende que a responsabilidade do governo se limita à não interferência na economia. “Precisamos de uma orientação ética adequada, pois a pobreza não pode ser vista como uma falha individual, mas como um reflexo das divisões sociais e econômicas existentes”, afirmou.
O economista também abordou o impacto das crises geopolíticas e a necessidade de uma governança mais eficaz em um mundo multipolar. Ele citou que, embora os líderes globais reconheçam a importância do meio ambiente, ainda existe uma falta de compromisso em adotar medidas efetivas a favor do desenvolvimento sustentável.
Desenvolvimento sustentável e o papel do Brasil
Sachs destacou o papel único do Brasil no cenário global, especialmente como anfitrião da COP30. O país, que abriga a maior biodiversidade do planeta e é uma das maiores economias da América Latina, enfrenta desafios internos significativos que dificultam a proteção de sua biodiversidade. “O Brasil, ao ser líder do G20 e presidir o BRICS em 2025, tem uma oportunidade histórica de influenciar positivamente as discussões ambientais”, destacou.
A COP30 surge como uma plataforma crucial para que outras nações demonstrem seu compromisso com as ações climáticas, especialmente na esteira da saída dos EUA do Acordo de Paris. “Lamentamos a saída temporária dos EUA, mas precisamos avançar, pois a luta contra a mudança climática não pode esperar”, disse Sachs.
Desafios da tecnologia e o aumento da desigualdade
Em relação aos avanços tecnológicos, como a inteligência artificial, Sachs afirmou que, embora a tecnologia tenha potencial para melhorar a educação e os serviços de saúde, também pode aumentar a desigualdade. “Se não tivermos uma visão política que garanta que todos se beneficiem dessa tecnologia, estaremos exacerbando as desigualdades já existentes”, alertou.
Os bilionários do setor de tecnologia, muitos dos quais são defensores do libertarianismo, combinam riqueza com uma evidente falta de empatia e responsabilidade social, criando uma dinâmica perigosa. “A filosofia libertária, ao desconsiderar a responsabilidade coletiva, permite que os ricos se isentem de suas obrigações sociais”, acrescentou.
A desigualdade no cenário global
Sachs sublinhou que, apesar de a pobreza extrema ter diminuído significativamente em alguns países, como a China, a desigualdade continua a crescer, especialmente nos Estados Unidos. “Temos uma sociedade que é não apenas desigual, mas também marcada por injustiças sociais que perpetuam a pobreza”, afirmou. Ele reiterou que a educação de qualidade e a provisão adequada de infraestrutura são fundamentais para enfrentar a desigualdade.
O economista concluiu sua palestra enfatizando que as políticas públicas devem estar acompanhadas de uma mudança ética nas sociedades. “Se não assumirmos a responsabilidade uns pelos outros, a sociedade não prosperará integralmente. Precisamos de soluções que unam a tecnologia com uma abordagem ética na busca pelo desenvolvimento sustentável e pela redução das desigualdades”, finalizou Sachs.