O número de casamentos no Brasil sofreu um novo recuo em 2023, após uma breve recuperação nos dois anos anteriores, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta sexta-feira (16). Com 940.799 matrimônios registrados, a queda foi de 3% em relação a 2022, refletindo uma tendência que já se observa há décadas no país.
A queda nos casamentos e seus determinantes
Desde 2019, quando foram celebrados mais de 1 milhão de casamentos, os números vêm apresentando uma queda significativa. Em 2020, por conta da pandemia de Covid-19, o número despencou para cerca de 757 mil. Embora tenha havido um aumento em 2021 e 2022, os dados de 2023 mostram que essa recuperação não se sustentou.
Segundo Klivia Brayner, pesquisadora do IBGE, a diminuição do número de casamentos pode estar relacionada a mudanças culturais. “As pessoas estão concentrando menos no casamento civil, que não é mais uma exigência da sociedade. Hoje, as pessoas têm mais liberdade para decidir se querem casar”, explica a pesquisadora.
Dados detalhados
O recuo nos casamentos afetou tanto uniões heterossexuais, com uma queda de 3,7%, como homoafetivas entre homens, que tiveram uma diminuição de 5,9%. Por outro lado, as uniões homoafetivas entre mulheres mostraram um crescimento de 4,9%, elevando o número total para 11.918 registros em 2023 — o maior desde que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) garantiu o direito ao casamento civil para a população LGBTQIA+.
Entretanto, esses casamentos ainda representam apenas 1,9% do total de casamentos civis registrados. O crescimento das uniões entre mulheres muda a percepção sobre o casamento no Brasil, que, embora em queda, ainda mostra uma faceta de diversificação nas escolhas dos cidadãos.
Divórcios e novos padrões de união
Os dados do IBGE também revelam que os divórcios estão em alta, com 441 mil registros em 2023, uma variação de 4,9% em relação ao ano anterior. Além disso, o tempo médio entre casamento e divórcio diminuiu de 16 anos em 2010 para 13,8 anos em 2023, sinalizando uma tendência de relacionamentos mais curtos.
Curiosamente, quase metade dos divórcios em 2023 envolvem casamentos que duraram menos de 10 anos. Entre essas separações, um fator significativo é a presença de filhos menores de idade, que esteve presente em mais da metade das situações de rompimento (53%).
Aumento da guarda compartilhada
Nos casos de divórcio em que há filhos, a guarda compartilhada tem se tornado cada vez mais comum. De 7,5% dos casos em 2014, o percentual subiu para 42,3% em 2023, indicando uma mudança nos padrões de responsabilização parental após a separação.
Regiões do Brasil: uma análise
Enquanto a maioria das regiões do Brasil apresenta uma queda no número de casamentos, o Centro-Oeste se destaca com um leve aumento de 0,8%. Essa região também possui a maior taxa de nupcialidade do país, com 6,5 casamentos a cada mil habitantes. Além disso, foi a única região a registrar um crescimento no número de nascimentos, contrastando com a tendência geral de diminuição ao longo dos anos.
Casamentos de viúvos e divorciados
Outro dado interessante é o aumento do número de casamentos em que um dos cônjuges é viúvo ou divorciado, que saltou de 12,9% em 2003 para 31,3% em 2023. A idade média dos noivos nesta situação é de 41,3 anos para mulheres e 45,2 anos para homens, indicando que novas dinâmicas estão se estabelecendo à medida que a sociedade evolui.
Conclusão
O panorama dos casamentos no Brasil em 2023 é reflexo de transformações sociais e culturais profundas. Com um aumento nas uniões entre mulheres e uma crescente aceitação da diversidade, as estatísticas não apenas demonstram uma queda nos números de casamentos, mas também revelam a complexidade das relações contemporâneas. À medida que a sociedade se adapta a novas realidades, a definição de união e seus significados continuam a evoluir.