As incertezas provocadas pelo tarifaço de Donald Trump tiveram uma trégua nos últimos dias, abrindo uma janela para o Brasil se posicionar diante das oportunidades criadas pela nova configuração do comércio e dos investimentos globais. Essa análise foi discutida por líderes do setor público e privado presentes na segunda edição do “Summit Valor Brazil-USA”, promovido pelo Valor, nesta quarta-feira, em Nova York.
Expectativas e cena econômica global
A melhora do humor global fez o dólar cair para um patamar mais baixo, na casa dos R$ 5,60, criando as condições para o Banco Central considerar o fim do ciclo de aperto monetário. As expectativas agora se voltam para o contingenciamento de despesas do Orçamento, que será anunciado em breve para cumprir a meta de resultado primário deste ano. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que o governo continuará fazendo uma gestão fiscal responsável, visando bloquear e contingenciar despesas necessárias.
O “Summit Brazil-USA” contou com a presença de autoridades, especialistas, empresários, CEOs e investidores dos dois países, abordando uma diversidade de temas que impactam a relação bilateral, como juros, indústria, ação climática, geopolítica, tecnologia e commodities, sob a nova administração de Donald Trump.
Diplomacia e o futuro das relações Brasil-EUA
Durante o evento, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Podemos-PB), destacou que as prioridades do Legislativo incluem a reforma de recursos humanos da administração pública e a revisão de benefícios tributários. Essa última pauta visa compensar a perda de receita gerada pela isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
A reconfiguração do comércio provocada pelas políticas protecionistas dos Estados Unidos abre oportunidades para o Brasil, uma economia ainda bastante fechada, se integrar ao restante do mundo. O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, enfatizou que a América Latina pode contribuir significativamente para enfrentar os desafios globais.
Potencial de crescimento e inovação
Os empresários e investidores que participaram do summit chamaram a atenção para as oportunidades criadas pela inteligência artificial, sublinhando que o Brasil não pode perder esses avanços tecnológicos. Fabricio Bloisi, fundador do iFood e CEO da Prosus, ressaltou que a tecnologia gerou imenso valor nos Estados Unidos e na China, e que o Brasil tem potencial para muito mais.
Na discussão sobre as relações diplomáticas, vários executivos concordaram com a cautela do governo Lula em lidar com o tarifaço de Trump. Marcelo Martins, CEO da Cosan, pediu foco na diplomacia e nas oportunidades comerciais a médio e longo prazo, enquanto Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, advertiu sobre a proteção do comércio internacional de alimentos, ressaltando que a guerra tarifária não deve inibir as exportações nem o combate à fome.
Além disso, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), ressaltou que o estado tem inúmeras oportunidades, especialmente após a recuperação econômica que se seguiu à operação Lava-Jato, destacando que o território fluminense bateu recordes de produção de petróleo e gás natural no país.
O futuro das relações comerciais
O comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos atingiu US$ 80 bilhões em 2024, suportado por uma resiliência em vários setores. Abrão Neto, CEO da Amcham, observou que o governo brasileiro adotou uma postura equilibrada, baseada em diálogo e negociação. No entanto, os líderes empresariais enfatizam a necessidade de intensificar essa comunicação e buscar mais espaços para negociação, de modo a melhorar a competitividade do Brasil no cenário internacional.
À medida que o Brasil avança, é crucial que mantenha uma postura pragmática e inovadora, aproveitando as oportunidades geradas pela nova dinâmica económica global. O próximo passo será combinar estratégias fiscais com investimentos em tecnologia, infraestrutura e comércio, assegurando que o país emerge como um player influente no novo tabuleiro global moldado pelas relações comerciais e políticas internacionais.