A Polícia Civil do Piauí abriu um inquérito sigiloso para investigar a atuação de Suelene da Cruz Pessoa, conhecida nos bastidores da política piauiense como Sol Pessoa — a ex-assessora mais poderosa da gestão do ex-prefeito de Teresina, Dr. Pessoa. A informação foi repassada à reportagem por uma fonte.
A investigação apura suspeitas de corrupção passiva, ocultação de patrimônio, enriquecimento ilícito e possível atuação em organização criminosa.
O inquérito foi instaurado ainda em 2024, quando Dr. Pessoa ocupava o cargo de prefeito, e, segundo fontes do Diário, segue em andamento com prioridade máxima.
A informação da investigação ocorre menos de uma semana depois da atual gestão da Prefeitura denunciar que na gestão do ex-prefeito existiam cerca de 1.000 garis fantasmas. O susposto e possível desvio representaria um prejuízo de R$ 5 milhões mensais aos cofres públicos.
Sol ocupava o gabinete do prefeito e dava ordens a secretários, aponta investigação
Servidores da prefeitura ouvidos pelo Diário, sob condição de anonimato, afirmaram que Sol Pessoa dividia fisicamente a sala do prefeito e atuava com autoridade de mando, despachando com secretários e empresários em nome do próprio chefe do Executivo municipal. “Ela mandava mais que o prefeito”, resumiu um servidor.
A autoridade informal de Sol chamava atenção pela frequência com que interlocutores importantes eram atendidos por ela, e não por Dr. Pessoa. Vários desses encontros, segundo apurações, suspotamente teriam resultado em “presentes” que podem, segundo a linha de investigação da Polícia que segue sob sigilo, ter financiado a construção de uma mansão avaliada em mais de R$ 2 milhões.
Atentado a bomba e bolsas de medicina levantam novas suspeitas
Um imóvel, localizado na zona Sul da cidade, foi alvo de um atentado a bomba no final do ano passado. É o mesmo cuja origem dos recursos para a construção da luxosa casa estaria sob investigação como um dos focos centrais, pois seria, em tese, incompatível com os rendimentos formais de Sol Pessoa.
Outro ponto investigado diz respeito à concessão de bolsas integrais em uma faculdade de medicina. De acordo com informes recebidos pela polícia, Sol Pessoa, um outro familiar do Dr. Pessoa e pelo menos dois ex-secretários municipais teriam recebido bolsas de 100%, sem justificativa aparente. Cada vaga é estimada em R$ 120 mil por ano — um custo total superior a R$ 700 mil por curso.
Quebra do sigilo de Sol Pessoa revelaria influência oculta na gestão
Fontes informaram que a Delegacia de Combate à Corrupção (DECCOR), comandada pelo delegado Ferdinando Martins, avalia pedir a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico de Sol Pessoa. A medida é vista como necessária para rastrear possíveis fluxos financeiros ilegais.
Além disso, a polícia já trabalha na coleta de documentos e testemunhos que indiquem o comando informal exercido por Sol na administração pública, mesmo sem ocupar cargo oficial de gestão. Relatos dão conta da existência de bilhetes escritos de próprio punho e mensagens de WhatsApp com ordens a secretários.
Empresários, motorista e malas: os bastidores de um possível esquema
O Diário teve acesso a informações que apontam que empresários saíam frequentemente do gabinete de Dr. Pessoa — onde despachava Sol — carregando pacotes que levantaram suspeitas entre os servidores. Um funcionário próximo ao ex-prefeito, cujo nome é mantido sob sigilo, seria peça-chave nas investigações.
Para evitar envolvimento direto, ele estaria disposto a colaborar com as autoridades, podendo até formalizar uma delação.
Polícia busca origem do patrimônio e recuperação de prejuízos causados ao erário
A DECCOR tem como prioridade não apenas investigar crimes contra a administração pública, mas também recuperar ativos desviados por meio de medidas como sequestro de bens e bloqueio de contas.
“A filosofia do nosso departamento é identificar crimes e mensurar prejuízos causados, com o objetivo de recuperar os valores e sufocar o patrimônio das organizações criminosas envolvidas com corrupção”, declarou à época o delegado em entrevista anterior publicada no site da Polícia Civil.
A DECCOR do Piauí é reconhecida como uma das mais eficientes do Brasil. O coordenador, o delegado Ferdinando Martins, foi eleito em 2021 um dos melhores delegados de polícia do Brasil pelo site especializado delegados.com.br.
Caso as suspeitas sejam confirmadas, Sol Pessoa poderá ser denunciada por crimes que somam mais de 25 anos de reclusão, além da obrigação de devolver aos cofres públicos os prejuízos causados — estimados em vários milhões de reais.
Investigação segue sob sigilo
A Polícia Civil não confirma oficialmente a existência do inquérito, mas fontes próximas ao caso asseguram que ele está em curso e pode avançar rapidamente nas próximas semanas.
O Diário seguirá acompanhando de perto os desdobramentos da investigação, a possível suspensão do sigilo e a divulgação oficial dos dados e provas colhidos pela Polícia Civil do Piauí.