O cenário de aperto orçamentário no Brasil impacta fortemente as Forças Armadas, que enfrentam dificuldades para manter operações, renovar equipamentos e cumprir projetos estratégicos. As limitações de recursos têm provocado atrasos e suspensão de atividades importantes, evidenciando a gravidade da crise fiscal enfrentada pelo governo.
Impacto nas Forças Armadas e projetos estratégicos
Segundo fontes militares, a Aeronáutica poderá atrasar a entrega de caças Gripen, fabricados pela sueca Saab, e da aeronave de transporte KC 390, da Embraer. Uma nota da Aeronáutica revelou que os efeitos do contingenciamento têm sido severos, atingindo desde atividades operacionais até questões logísticas e administrativas, além de paralisar sete das dez aeronaves de transporte de autoridades por falta de combustível e peças de manutenção.
“Considerando o alto valor dos bloqueios e dos contingenciamentos, houve impactos sérios em praticamente todas as atividades, desde operações até suporte logístico”, afirmou a Aeronáutica. O atraso na renovação de frota também ameaça o fortalecimento da Marinha, que estima precisar de pelo menos R$ 20 bilhões para manter seus projetos de desenvolvimento naval, incluindo submarinos e atividades marítimas.
Consequências para o sistema de segurança e defesa
Os cortes orçamentários estenderam o cronograma de projetos como o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), que teve sua previsão de conclusão adiada de 2021 para 2039, com um custo adicional de R$ 4 bilhões. Além disso, a Força Terrestre enfrenta dificuldades para adaptar instalações para a crescente participação de mulheres no serviço militar, devido à insuficiência de recursos.
Crise em universidades e outras áreas governamentais
Na área de educação, as universidades federais também vivem momentos delicados. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) teve um muro do Colégio de Aplicação desabando, enquanto na Universidade de Brasília, a biblioteca principal está fechada devido a uma greve de técnicos em andamento há três meses. Essas restrições, segundo o presidente da Associação Nacional de Docentes (Andes), podem levar ao colapso de instituições que já enfrentam dificuldades de pagamento de contas essenciais como luz e água.
Dados do Banco Mundial indicam que o Brasil precisa fazer um ajuste de 3% do PIB nas contas públicas. A crise fiscal também atinge áreas como o INSS, que acumula uma fila de 2.6 milhões de pedidos de benefícios ainda sem resposta, devido, em parte, à greve de servidores.
Desafios no controle financeiro e na regulação do sistema financeiro
Até o Banco Central (BC), órgão que tradicionalmente apresenta estabilidade orçamentária, tem sofrido com redução de recursos. Em 2024, dos R$ 3,8 bilhões de orçamento, apenas R$ 297 milhões eram discricionários, e o quadro de servidores foi reduzido pela metade em relação ao previsto em 1998. O BC precisa também lidar com o crescimento do mercado financeiro, incluindo fintechs e o sistema de pagamentos instantâneos, o Pix, que demandam maior atenção e regulações específicas, mesmo com recursos limitados.
Além disso, há atrasos na regulamentação de novas instituições de pagamento, que atualmente operam sem autorização e sem visibilidade do órgão regulador, podendo comprometer a estabilidade do setor financeiro.
Perspectivas futuras
O cenário sugere que, se os recursos continuarem escassos, as falhas na manutenção e inovação das forças militares e no funcionamento das instituições públicas poderão se intensificar. A restrição de investimentos ameaça comprometer a segurança, a defesa e a sustentabilidade do setor público brasileiro nos próximos anos.
Para saber mais, acesse Falta de recursos irrita as Forças Armadas.