Os planos de saúde acumularam uma alta de 327% entre 2006 e 2024, quase o dobro da inflação geral do Brasil, medida pelo IPCA, que subiu 170% no mesmo período. Os dados são do Instituto de Estudos de Políticas de Saúde (Ieps), com base nas estatísticas do IBGE, e mostram um impacto crescente no orçamento de famílias e empresas.
Aumento dos custos e argumentos do setor
O setor discorda de análises que relacionam a variação de preço apenas ao IPCA, argumentando que a precificação leva em consideração fatores como custos de insumos, tecnologias e frequência de uso. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a variação também reflete elementos específicos do setor, mas pesquisadores analisaram quanto realmente o consumidor desembolsa ao longo do tempo, independentemente dos critérios oficiais.
Vinicius Peçanha, economista e autor do estudo, explica: “O objetivo era olhar o quanto está saindo do bolso e sendo pago por famílias e empresas ao longo do tempo, comparado a outros itens de consumo.” A pesquisa revelou que, enquanto a inflação dos planos aumentou 327% no período, os preços de serviços médicos e dentários subiram 233%, e laboratoriais e hospitalares, 179%.
Impacto na cesta de consumo e comparação internacional
Nos 18 anos analisados, além do crescimento nos planos de saúde, alimentos e bebidas tiveram alta de 276%, educação avançou 203%, e habitação, 176%. O Brasil destaca-se entre os países com maior aumento nos preços de saúde suplementar, superando países como Alemanha, França e EUA.
Segundo Peçanha, fatores como tecnologias mais caras, reajustes autorizados pela regulação e mudanças demográficas, como o envelhecimento da população, contribuíram para esse aumento. “A incorporação de tratamentos mais avançados e dispendiosos, além de questões regulatórias e de eficiência, elevam os custos,” afirma.
Reajustes e o peso nos orçamentos familiares
Hoje, o setor de saúde suplementar representa uma parcela significativa da despesa das famílias. Cleide de Barros, farmacêutica de 57 anos, relata que, em 2024, o plano de saúde chegou a comprometer 40% de sua renda familiar. Ela troca de plano por considerar que os reajustes anuais tornaram o custo insustentável para ela e sua filha.
Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), embora o reajuste máximo autorizado por contratos individuais para 2025 seja de 6,06%, muitos usuários optam por contratos coletivos por adesão, que não têm limite de reajuste, o que pode levar a aumentos ainda mais expressivos.
Desafios para o acesso e o mercado
O aumento constante torna o acesso à saúde privada mais oneroso, especialmente para famílias com idosos, e pode pressionar ainda mais o Sistema Único de Saúde (SUS). Especialistas alertam que a tendência de altas de preços e custos elevados pode tornar o mercado proibitivo para parte da população.
Marcelo Borges, diretor executivo da Mercer Marsh, destaca que o crescimento do gasto privado per capita, impulsionado por tecnologia e medicamentos mais caros, é um fenômeno global. Valores de medicamentos, por exemplo, chegaram a R$ 20 mil por caixa, com aumentos de 41,4% de 2022 para 2023.
Por outro lado, o setor afirma que o aumento está relacionado também à judicialização crescente e à necessidade de incorporar tratamentos mais eficazes e tecnológicos, que, apesar de mais caros, elevam a qualidade do atendimento.
Perspectivas e desafios futuros
Especialistas alertam que, sem mudanças na gestão de custos e na regulação, o aumento dos preços dos planos de saúde tende a continuar elevando-se, dificultando o acesso de parcela importante da população à cobertura privada. A expectativa é de que esses aumentos pressionem ainda mais o sistema público e agravem desigualdades no acesso ao cuidado médico.
A avaliação do setor aponta que a alta constante dos preços é um fenômeno mundial, mas no Brasil ela ocorre em ritmo mais acelerado, tornando-se um desafio para o equilíbrio econômico e social do país.
Para mais informações, consulte o estudo completo do Globo.