Os primeiros confrontos entre brasileiros e europeus na Copa de Clubes nos Estados Unidos levantaram uma série de indagações. Entre os questionamentos, destaca-se o impacto do calendário e do momento da temporada no futebol disputado no torneio. Do ponto de vista nacional, as vitórias e os empates sugerem uma diferença menor entre as duas regiões. No entanto, no contexto estrangeiro, o cansaço e as condições climáticas foram identificados como fatores que influenciam nos resultados. Agora, Flamengo e Fluminense se preparam para enfrentar Bayern de Munique e Inter de Milão, respectivamente, em embates que prometem ser decisivos neste domingo e na segunda-feira.
O peso do calendário e do desgaste
Ao analisarmos o nível mais alto do futebol, reducionismos não são adequados. A complexidade do esporte envolve fatores mentais, ambientais e estruturais relevantes. Por exemplo, o organismo dos atletas profissionais é monitorado constantemente, desde o retorno das férias até o término da temporada. O cortisol, conhecido como hormônio do estresse, pode aumentar significativamente conforme o calendário avança. Altamiro Bottino, coordenador científico do Cuiabá e ex-profissional do Botafogo, explica que a acumulação de jogos e viagens gera consequências prejudiciais ao corpo, como a perda de massa muscular e o aumento da gordura corporal, impactando até mesmo o sistema imunológico.
“O excesso de cortisol acelera a morte celular, deixando o corpo em um desequilíbrio difícil de ser revertido”, observa Bottino. Este é um dos motivos pelos quais os técnicos frequentemente optam por preservar atletas quando sinais de desgaste se tornam evidentes.
Concentração nos grandes jogos
Diferente de outras modalidades esportivas, o futebol não permite que um jogador ou equipe alcance o ápice em uma única partida. Enquanto atletas de outras disciplinas treinam em busca de performance máxima, os futebolistas se dedicam a manter um desempenho consistente ao longo do campeonato. As evoluções nas práticas de preparação física e no controle de carga desempenham um papel crucial em mitigar quedas de desempenho, tanto nos clubes europeus quanto nas grandes equipes brasileiras.
Diego Ribas, ex-capitão do Flamengo, enfatiza a diferença mental entre o início e o fim da temporada, especialmente no Brasil, onde a pressão por resultados aumenta. “Necessitamos estar preparados para grandes jogos”, ressalta. Os atletas brasileiros abordam competições como o Mundial de Clubes como grandes oportunidades, o que resulta em uma entrega emocional significativa, diferenciando-se do desgaste mental observado entre os europeus.
Renato Gaúcho, técnico do Fluminense, complementa: “A concentração e o foco variam. Às vezes, isso se reflete em clássicos, onde o jogador pode relaxar achando que o jogo não é desafiador.” A preparação mental é, portanto, tão vital quanto a física.
Aspectos que equilibram a balança
No atual cenário do futebol, a diferença entre o cansaço europeu e a energia dos brasileiros a meio da temporada se torna um fator a ser considerado. Em 2025, por exemplo, o Chelsea disputou 28 partidas antes de embarcar para o Mundial, apresentando uma média de uma partida a cada cinco dias. No entanto, o Flamengo já havia disputado 35 jogos, com uma média de um a cada quatro dias. Além disso, a quantidade de deslocamentos impacta significativamente no desgaste, sendo que os ingleses percorreram 9,9 mil quilômetros, enquanto o Flamengo somou 38 mil quilômetros em suas viagens.
Ademais, o clima nos Estados Unidos acentua as dificuldades para os europeus, cujos corpos não estão habituados a temperaturas elevadas e umidade excessiva. Bottino destaca que o ritmo de jogo e a qualidade dos gramados também exigem uma adaptação por parte dos jogadores.
Apesar das queixas das ligas europeias sobre o aumento de competições, a FIFA defende que o número elevado de jogos não é atribuído à Copa de Clubes, que deve retornar em 2029. A entidade argumenta que o torneio substitui a antiga Copa das Confederações e, por isso, não implica em sobrecarga no calendário internacional.
A FIFA acrescenta que tem implementado iniciativas para o bem-estar dos atletas, em colaboração com o FIFPro, como o Fundo da FIFA para Jogadores de Futebol e substituições adicionais em jogos de alto nível. Essas medidas visam garantir que o desgaste físico e mental dos jogadores seja minimizado, permitindo que as competições sejam disputadas em alto nível.