Brasil, 29 de junho de 2025
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Prada e o uso não creditado de Kolhapuris na passarela

Marca de luxo apresentou sandálias similares às tradicionais Kolhapuris sem reconhecer suas origens culturais, levantando questão sobre apropriação.

Numa surpreendente coincidência, a coleção masculina de Prada para o spring 2026, exibida na Fundação Prada em Milão, incluiu um par de sandálias que lembram as tradicionais Kolhapuris indianas. Apesar de não terem sido explicitamente identificadas, a semelhança chamou atenção de fashionistas e da comunidade indígena, que destacou a ausência de crédito às origens dessas calçados artesanais.

Aos olhos do mundo, as Kolhapuris

As Kolhapuris, feitas artesanalmente por artesãos de Maharashtra e Karnataka há gerações, utilizam couro de búfalo seco, são completamente costuradas à mão e levam até duas semanas para serem produzidas. Elas receberam em 2019 a indicação geográfica — um reconhecimento oficial de sua autenticidade e origem regional —, reforçando seu valor cultural e econômico para as comunidades locais.

Apesar do reconhecimento formal, na passarela de Milão, as sandálias tradicionais foram apresentadas como “toe ring sandals”. O valor atribuído às peças na coleção de Prada ultrapassou os R$ 5 mil (mais de 1.000 dólares), estimulando críticas nas redes sociais. Comentários questionaram por que uma peça tão emblemática do artesanato indiano estaria sendo usada sem reconhecimento, especialmente por uma marca de luxo que não citou a origem da inspiração.

O debate sobre apropriação cultural na moda

Os comentários de internautas reforçam a preocupação com o reconhecimento adequado às comunidades artesanais indianas. “Se são tão maravilhosas, por que não dar crédito às mãos que as fazem? Está na hora de valorizar quem faz por trás dessas peças”, afirmou Anaita Shroff Adajania, stylist indiana, em sua postagem comparando as sandálias de Prada com as Kolhapuris originais.

Especialistas indicam que o problema não é o uso de inspirações culturais, mas a forma como elas são apropriadas: sem referências, sem remuneração justa às comunidades e sem reconhecer suas raízes. Casos semelhantes envolvem dupattas transformadas em “scandinavian scarves” ou lehengas reimaginados como roupas ocidentais, tudo enquanto as comunidades que produzem esses itens permanecem invisíveis no processo.

Importância do reconhecimento e da ética na moda

Para muitas comunidades, a apropriação sem crédito significa uma perda de visibilidade e de potencial econômico. “Se nossa cultura serve de inspiração para as passarelas, é justo que sejamos reconhecidos pela nossa identidade e criatividade”, declarou um artesão de Kolhapur, que preferiu não se identificar.

O debate vai além do estilo ou do valor financeiro. Trata-se de respeitar e valorizar a diversidade cultural, garantindo que os mestres artesãos indígenas recebam o devido reconhecimento e remuneração por suas criações.

O impacto na cultura e o papel da moda

Embora a moda seja um campo de constante reinvenção, ela também tem o poder de promover o respeito às origens culturais. Assim, o movimento é claro: inspirar-se sem copiar, reconhecer sem omitir e valorizar as raízes tradicionais que enriquecem a moda mundial.

Se marcas globais querem adotar elementos culturais, o mais correto é fazer isso com transparência e honestidade. Caso contrário, o que se vê é uma apropriação que desvirtua significados e contribui para a perda da autenticidade cultural.

Enquanto isso, comunidades como a de Kolhapur continuam a produzir suas peças com dedicação e orgulho, aguardando o reconhecimento justo de sua história e trabalho artesanal.

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