Brasil, 28 de junho de 2025
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“Isso me deixou muito irritada”: reação de uma trabalhadora sexual à “Anora” e suas reflexões

Recentemente, o filme “Anora”, dirigido por Sean Baker e estrelado por Mikey Madison, tem dividido opiniões — mesmo sendo um sucesso de crítica e premiações. Enquanto muitos celebram a representação artística, algumas profissionais do setor de trabalho sexual questionam a veracidade e o impacto da narrativa na percepção pública.

Reações de uma trabalhadora sexual a “Anora”

Emma, uma escort e dançarina que trabalha em Manhattan há dois anos, afirmou sentir uma forte mistura de emoções ao assistir ao filme. Para ela, muitas cenas iniciais parecem reais, pois refletem sua rotina na boate e na rua. “Quando vi as primeiras cenas, achei que eram fiéis à nossa rotina, até a linguagem corporal e o ambiente”, contou.

No entanto, Emma apontou pontos problemáticos na narrativa, especialmente na forma como as personagens são retratadas. “Fiquei confusa quando Ani discute com Vanya sobre sexo extra após o pagamento. Para mim e minhas colegas, isso não aconteceria, porque tudo já está pago”, explicou. Ela reforçou a importância de respeito e autonomia na profissão, criticando o comportamento das personagens que parecem depender emocionalmente de seus clientes.

Críticas ao romantismo e à sexualização exagerada

Emma chamou atenção para a cena em que Ani, após casar-se com Vanya, continua a se apresentar como extremamente sexualizada. “Isso parece um sonho de um homem, uma fantasia dele, e não a nossa realidade”, disse. “Na vida real, quando passamos muito tempo com alguém, essa persona fica difícil de manter.”

Ela também criticou a expectativa de que uma trabalhadora sexual vá se sentir emocionalmente presa a um cliente apenas por ele demonstrar gentileza ou oferecer algo além do sexo. “As meninas não caem nessa. Sabemos que somos substituíveis, que eles podem gostar de alguém, mas não são nossos namorados”, afirmou.

Representação e estereótipos

Emma destacou a representação de Ani como ingenuamente apaixonada por Vanya, algo que ela considera pouco realista. “Ela acredita que ele vai querer ficar com ela por amor, mas na nossa rotina, isso é raro. Quem acha mesmo que alguém que conheceu na boate vai querer construir uma relação verdadeira?”, questiona.

Ela reforça que o filme, ao abordar o universo do trabalho sexual, muitas vezes reforça estereótipos e fantasias masculinas, transformando uma realidade complexa em um espetáculo emocional que beneficia a narrativa de quem produz conteúdo para o entretenimento e o sucesso comercial.

Reação às cenas finais e à narrativa emocional

Outro ponto de incômodo de Emma é a cena no carro, que retrata uma suposta dor e sofrimento da personagem. Para ela, essa imagem reforça uma narrativa de sofrimento que muitos profissionais consideram injusta ou exagerada. “Nossos problemas não vêm do sexo, mas da insegurança financeira, do desrespeito ou da falta de reconhecimento na sociedade”, opinou.

Ela também lamenta que a personagem não termine a história de forma mais empoderadora, como jogando o telefone de Igor fora, ao invés de se entregar à fantasia de um amor incerto.

Realidade da profissão versus ficção

Emma finaliza destacando a diferença entre a experiência real e a representação no filme. “As pessoas fazem dinheiro e fama com o sonho de um homem, reforçando a ideia de que a narrativa triste é a mais verdadeira. Mas nossa realidade é mais dura, mais racional, e com menos romantismo”, concluiu.

Reflexões finais

Para ela, a cena de dor, tristeza ou sofrimento que o filme tenta transmitir não representa o que muitas profissionais vivem de verdade. “Nosso sofrimento não vem da sexualidade, mas da falta de respeito, da instabilidade financeira e do não reconhecimento social”, enfatizou. Assim, Emma reforça a importância de uma representação mais realista e respeitosa do trabalho sexual, longe de estereótipos e fantasias que alimentam expectativas irreais na sociedade e na mídia.

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