Em uma cidade onde a vida noturna sempre foi vibrante e cheia de referências culturais, o influenciador digital Sam de Melo Barros, de 45 anos, está usando as redes sociais para resgatar a memória de locais que marcaram a cena LGBT em Fortaleza. Boates como Divine, Meet e Donna Santa foram conhecidos pontos de encontro e agora fazem parte da saudade de muitos que viveram essa era gloriosa.
A importância de preservar a memória LGBT
No mês em que se celebra o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, é fundamental recordar como esses espaços garantiram segurança e acolhimento à comunidade. O Dia do Orgulho surgiu após a revolta de Stonewall em Nova York, em 1969, e, assim como em outras partes do mundo, em Fortaleza, as casas noturnas sempre foram refúgios para aqueles que buscam ser quem são.
Sam, que viralizou ao registrar o estado atual de locais como a Boate Divine, compartilha a tristeza com o fechamento de tantos espaços que um dia proporcionaram diversão e segurança. “Quando passava pelo Centro e via onde funcionava a Divine, sentia uma vontade imensa de registrar a história. Agora, é só um estacionamento”, conta ele, revelando que o primeiro vídeo que fez sobre a Divine ultrapassou 200 mil visualizações.
O impacto da cultura de boate na comunidade
As boates e bares sempre foram mais do que estabelecimentos; eram parte essencial da vida cultural. Com uma gama de opções, a comunidade LGBT podia vivenciar a diversidade e a troca de experiências em um ambiente seguro e acolhedor. As boates citadas por Sam, como a Broadway e o Kiss, não apenas proporcionavam estéticas e performances, mas também serviam como um espaço de resistência e expressão.
As transformações e perdas na cena LGBT
“Hoje, os espaços estão começando a desaparecer, e a cada fechamento é como se houvesse um pedaço da nossa identidade sendo apagado”, lamentou Sam. Essa sensação não é apenas dele, mas também da artista e culturalista Lena Oxa, que tem acompanhado a cena LGBT em Fortaleza desde os anos 1980. Lena ressalta que os novos estabelecimentos têm um papel importante, mas precisam olhar para o passado como uma fonte de inspiração.
“Os novos lugares precisam resgatar a essência que havia nas boates antigas, conectar-se às raízes. O antigo ainda tem força e gera um sentimento de pertencimento e alegria”, afirma Lena, que trabalhou na Divine durante oito anos e testemunhou a evolução do cenário noturno da cidade.
O futuro da cena LGBT em Fortaleza
Lena enfatiza que a escassez de espaços seguros e acolhedores afeta não apenas o público, mas também os artistas, que têm cada vez menos oportunidades de se apresentar. Enquanto isso, Sam continua a criar conteúdos que relembram a história vibrante da vida noturna LGBT, em busca de preservar a memória afetiva de tanta gente.
A luta pela dignidade e representação da comunidade LGBTQIA+ passa também pelo resgate e valorização desses locais. “É essencial que as novas gerações conheçam e respeitem o passado, para que possamos construir um futuro mais rico e inclusivo”, conclui Sam. Ele espera que seus vídeos sirvam como um lembrete da importância de espaços que abraçam a diversidade e oferecem segurança.
Boates como cartão postal de Fortaleza
A presença das boates e o que elas representavam para a cidade são comparados a um cartão postal, um símbolo de cultura e resistência. Muitas pessoas ainda hoje buscam as lembranças e a emoção que esses lugares proporcionavam, e é dessa forma que Sam e Lena trabalham para que essa memória não se perca. Se a sociedade como um todo continuar a reconhecer a importância dos espaços LGBT, a história rica e colorida desta comunidade pode ser mantida viva por gerações futuras.
Sam de Melo Barros continua sua jornada nas redes sociais, revisitando o passado e capturando o presente em vídeos que têm o poder de conectar, emocionar e lembrar a todos sobre a importância de celebrar e lutar pelo respeito e dignidade dentro da comunidade LGBTQIA+.
