A morte da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, após a queda de um penhasco no Monte Rinjani, na Indonésia, despertou uma onda de condolências e preocupações em relação à segurança nas trilhas internacionais. Juliana desapareceu no sábado (21) após se separar de um grupo de cinco turistas e seu corpo foi encontrado apenas três dias depois, a mais de 600 metros abaixo da trilha. O trágico incidente destaca falhas significativas que podem ter contribuído para a fatalidade, levantando discussões sobre a condução e os protocolos de segurança pelos guias locais.
Principais falhas de segurança na trilha
Especialistas em montanhismo e turistas que já percorreram o Monte Rinjani indicam várias falhas no processo de condução das trilhas, que podem ter levado à morte de Juliana. Um dos pontos mais criticados é a falta de exigência quanto ao uso de equipamentos de segurança essenciais. Segundo relatos, o local não requer que os turistas levem itens básicos como cobertores térmicos ou vestimentas adequadas para condições climáticas adversas.
A triatleta e bióloga Isabel Leone, que visitou o Monte Rinjani há uma década, observou que no Brasil a participação em provas de montanhismo exige equipamentos de segurança, enquanto na Indonésia essa exigência é praticamente inexistente. “Não existe exigência de equipamentos de emergência. Aqui no Brasil você precisa levar cobertor, casaco e luvas. Lá, não”, afirmou Leone.
Separação do grupo e sua consequências
Outro aspecto alarmante foi a decisão do guia de seguir adiante com o grupo, enquanto Juliana pedia para descansar. De acordo com testemunhos da família e do guia Ali Musthofa, ele se afastou por poucos minutos antes de retornar ao local onde Juliana deveria estar. Especialistas recomendam que, em trilhas de alto risco, a prática de manter o grupo unido é imperativa. “A atitude do guia de se separar de um participante é incorreta. Todos devem manter contato visual e serem supervisionados pelo guia, que deve ser a pessoa mais experiente do grupo”, explicou Aretha Duarte, montanhista profissional.
Silvio Neto, da Associação Brasileira de Guias de Montanha, também reforçou a necessidade de vigilância constante. “O ideal é que ela não ficasse sozinha, sempre amparada. Se o grupo não consegue manter um ritmo, todos devem seguir juntos”, comentou.
Preparação dos guias e condições do terreno
Relatos de turistas que percorreram a trilha mencionam que muitos guias estavam descalços e sem a proteção adequada ao clima rigoroso, o que levanta suspeitas sobre a formação e a segurança que eles proporcionam. Segundo Leone, “a precariedade dos guias é evidente. Vários andam descalços e levando pouca água e comida.” Esse despreparo pode impactar gravemente em situações de emergência.
As condições do terreno e do clima no Monte Rinjani também contribuem para o nível de risco. Com 3.721 metros de altura, a trilha é caracterizada por áreas íngremes e instáveis, além de mudanças climáticas rápidas que podem transformar o percurso em uma armadilha para os menos experientes. Claudio Carneiro, cinegrafista que esteve no local, descreveu que “é muita chuva e frio intenso. O clima muda muito rápido e é traumatizante.”
Desafios no resgate
Após o acidente, o resgate de Juliana foi prolongado e desorganizado. Apesar de um drone ter localizado a brasileira rapidamente, os socorristas levaram mais de três dias para alcançá-la. A falta de coordenação e planejamento da equipe de resgate foi um fator crítico. Por exemplo, as equipes não possuíam cordas longas o suficiente para chegar até a brasileira, que estava a uma distância considerável da trilha.
Aretha Duarte comentou que “o tempo é decisivo entre a vida e a morte”. A ausência de um resgate imediato pode ter comprometido as chances de Juliana. O uso de tecnologia, como drones, não conseguiu fornecer a precisão necessária em tempo hábil, levantando questionamentos sobre a eficiência e o treinamento das equipes locais.
Responsabilidade das agências
Os especialistas também ressaltam que a agência contratada por Juliana possui responsabilidade legal pelo que ocorreu. A falta de suporte emergencial e a necessidade de acionar rapidamente as autoridades competentes são pontos que devem ser levados em consideração. Aretha afirmara que “é imperativo que a empresa tenha compromisso com a segurança de seus clientes”.
Considerações finais e reflexão
A tragédia que vitimou Juliana Marins não apenas destaca a necessidade urgente de revisar os protocolos de segurança em trilhas internacionais, especialmente nas de alto risco, como também serve como um lembrete aos turistas. Uma preparação adequada, conhecimento dos riscos e a escolha cuidadosa de agências e guias são passos cruciais para evitar que outras famílias enfrentem a mesma dor. O caso de Juliana é um triste exemplo que deve motivar mudanças que possam preservar vidas no futuro.