Na segunda-feira, o mundo acompanhou com preocupação o início da retaliação do Irã contra forças americanas em Doha, após um ataque militar direcionado pelo ex-presidente Donald Trump. A resposta dos Democratas nos Estados Unidos, no entanto, tem se mostrado fragmentada e incerta, refletindo as complexidades da política interna e internacional.
Democratas divididos sobre a resposta ao ataque de Trump ao Irã
Enquanto alguns legisladores, como o senador John Fetterman, apoiaram prontamente o ataque, outros, como a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, consideraram a ação uma possível impeachable offense. Lideranças importantes, como o líder do Senado, Chuck Schumer, acreditam que a decisão foi adequada, mas defendem que a autorização do Congresso seria o procedimento correto. O grupo conhecido como “Let’s Wait And See Caucus”, liderado pelo deputado Jim Himes, mantém uma postura de cautela, inclusive questionando a constitucionalidade da ofensiva.
Essa disputa interna revela o quanto os Democratas ainda lutam para definir uma postura clara frente ao maior adversário político, o ex-presidente Trump, que continua a influenciar significativamente a narrativa política americana.
O impacto do envolvimento de Israel e a opinião do eleitorado
Outro fator que complica a estratégia democrática é o envolvimento de Israel na escalada do conflito. A base de eleitores judaicos, embora pequena, é uma das mais fiéis ao Partido Democrata, representando 78% dos votos de Kamala Harris na última eleição. Contudo, o recente aumento de apoio à Palestina, após ataques de Hamas, tem despertado tensões internas, especialmente entre os jovens democratas e a esquerda progressista.
As críticas às ações de Israel e as declarações de Trump, que tem provocado ataques a centros acadêmicos por suposto antissemitismo, criam um terreno delicado. A relação entre o apoio à Israel e a postura em relação ao Irã tornou-se uma corda-borseia, dificultando uma resposta unificada do partido.
O cenário eleitoral e a polarização evidente
Antes do ataque de sábado, uma pesquisa do Reagan Institute indicava que quase metade dos americanos apoiava ações contra o Irã caso as negociações diplomáticas fracassassem, com maior apoio entre os republicanos (60%) do que entre os democratas (32%). A maioria dos democratas (51%) se posicionou contra os ataques, enquanto apenas 27% dos republicanos concordaram com a ação.
Esse cenário de disparidade reforça a indecisão dentro do Partido Democrata. Líderes evitam se posicionar firmemente, na expectativa de como a base irá reagir, temendo prejuízos internos, especialmente diante do risco de primárias e de uma campanha presidencial de 2028 já em perspectiva.
Futuro político e a incerteza na resposta
A inabilidade de os Democratas encontrarem uma postura coesa evidencia o desafio de unir os votos e opiniões frente a uma crise internacional de alta complexidade. Segundo analistas, momentos assim geralmente colaboram para uma união temporária em torno do presidente em exercício, como aconteceu após a operação que matou Osama bin Laden, há cerca de seis semanas. No entanto, só o tempo dirá quanto essa unidade irá durar e como os líderes democratas vão navegar essa turbulência.
Por ora, os nomes que disputam a recente liderança do partido optam por manter um silêncio estratégico, cientes de que a resposta ao ataque de Trump ao Irã pode influenciar o cenário eleitoral nos próximos anos.