Em um dia repleto de cores e emoções, a 29ª edição da Parada do Orgulho LGBT+, realizada neste domingo (22) na Avenida Paulista, destacou a relevância do envelhecimento dentro da comunidade LGBT+. Sob o tema “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro”, o evento reuniu histórias inspiradoras de casais idosos que, apesar da invisibilidade a que muitas vezes são submetidos, mostraram que o amor e a sexualidade não têm prazo de validade.
Amor e ativismo na terceira idade
Entre os casais que marcaram presença no evento estavam Toni Reis e David Harrad, considerados um marco na história do Brasil. Juntos há 40 anos, eles foram pioneiros ao se casarem legalmente após a decisão do Supremo Tribunal Federal em 2011 que permitiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Toni, que tem 65 anos, e David, de 66, expressaram sua alegria em participar da Parada, enfatizando a importância de envelhecer com dignidade e qualidade de vida.
“O envelhecimento deve ser respeitado. Temos que trabalhar com todas as idades e não deixar ninguém para trás”, disse Toni, refletindo sobre a importância de lidar com essa fase da vida sem preconceitos.
Quebrando estigmas
José Maria de Moraes, de 65 anos, e seu parceiro Rinaldo Vince, de 61, também estavam presentes. Juntos há 41 anos, o casal compartilhou suas experiências, ressaltando que é preciso desconstruir a ideia de que o desejo desaparece com a idade. “O desejo e o encantamento estão longe de acabar na terceira idade”, afirmou José Maria, relembrando as dificuldades que enfrentaram em um contexto social de maior repressão.
“Tivemos que ter cuidado com nossas demonstrações de carinho, pois éramos constantemente rechaçados. Hoje, embora a repressão ainda exista, muitos conseguiram romper essa barreira”, acrescentou Rinaldo, destacando a importância de as novas gerações reconhecerem o legado deixado por aqueles que lutaram por direitos e visibilidade.
A celebração da diversidade
Outro casal, Edmar Bastos e Elcio Goiano, casados há 13 anos, também se uniu à celebração. “O tema desse ano nos motivou a participar. Envelhecer e estar feliz é uma conquista”, declarou Edmar. Eles ressaltaram a importância de apoiar e celebrar a diversidade em todas as idades.
Diretamente de Alagoas, Carmen Lúcia Dantas e Cintia Ribeiro marcaram sua presença, caminhando de mãos dadas pela Avenida Paulista. Carmen, uma museóloga que já participou de exposições focadas na diversidade, declarou que viver um amor lésbico na maturidade é um ato de afirmação.
Um exército de leques
A principal atração do evento deste ano foi a presença de leques coloridos, que se tornaram um símbolo de resistência e expressão dentro da comunidade. Os organizadores convocaram o público a levar seus leques, que não apenas serviram para refrescar, mas também simbolizaram a luta contra a homofobia.
Marco Nanini, renomado ator que tem se mostrado um forte aliado da comunidade LGBT+, também participou, sendo aplaudido ao manter uma bandeira do Orgulho nas mãos. A presença de figuras públicas como Nanini e a participação ativa de parlamentares reforçaram a importância do evento como um espaço de resistência política e afirmação identitária.
Um público unido e engajado
Com uma contagem de aproximadamente 48 mil participantes ao meio-dia, a Parada foi um reflexo da diversidade de pessoas que se uniram para celebrar o amor em suas diversas formas. Embora a maioria do público fosse jovem, muitos casais idosos e famílias participaram, criando um ambiente de inclusão e celebração.
Entre as novas gerações, Jarbas Bitencourt e seu parceiro Mikael, que têm uma filha de um ano, também marcaram sua presença, celebrando o direito de amar e ser feliz. Jarbas foi um dos muitos que criaram laços entre diferentes idades e experiências, promovendo um espaço onde todos são bem-vindos.
Desafios do envelhecimento LGBT+
Embora a celebração tenha sido vibrante, não faltaram reflexões sobre os desafios enfrentados pela comunidade LGBT+ ao envelhecer no Brasil, especialmente em relação às políticas públicas que precisam ser implementadas para garantir dignidade e direitos básicos. A vereadora Amanda Paschoal, presente no evento, destacou a necessidade urgente de articular e construir políticas que garantam qualidade de vida para a população LGBT+ em todas as fases da vida.
“Ser LGBT em qualquer faixa etária é extremamente difícil na sociedade brasileira. Precisamos garantir acesso a direitos e criar espaços que respeitem nossas diversidades”, afirmou a vereadora, enfatizando a importância de continuar lutando por visibilidade e respeito.
Por fim, a Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo não apenas celebrou as conquistas da comunidade, mas também levantou questões cruciais sobre envelhecimento, resistência e o futuro da luta por igualdade.