Nos últimos anos, o surfe passou por uma verdadeira revolução na forma como os atletas se preparam para competições. Palavras como treino, alimentação regrada, fisioterapia e recuperação deixaram de ser estranhas e agora estão no dia a dia de quem busca se destacar nas ondas. Com a inclusão do surfe nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, essa transformação se intensificou, mudando o perfil do atleta de um “cara da praia” para um verdadeiro atleta completo.
A evolução do treinamento dos surfistas
A elevação do nível competitivo no surfe mundial trouxe a necessidade de uma preparação cada vez mais rigorosa. “No nível em que a gente está, não dá para deixar muita brecha para o adversário. A máquina tem de estar redonda”, afirma Miguel Pupo, que ilustra a nova mentalidade dos competidores. Hoje, é essencial não apenas treinar as habilidades na água, mas também investir em educação física, nutrição, psicologia e tecnologia.
A pré-temporada é uma das etapas mais críticas da preparação. Pupo, por exemplo, dedica de 12 a 16 semanas para acumulando massa muscular, fundamental para prevenir lesões e lidar com o desgaste físico que a competição exige. “Estar forte também ajuda a controlar a fadiga”, explica. Após essa fase de ganho de massa, os surfistas ajustam suas rotinas com foco na recuperação e na maximização do desempenho em diferentes marés e condições.
O papel da equipe de suporte
Atletas como Italo Ferreira, campeão olímpico e um dos maiores nomes do surfe brasileiro, estruturam uma equipe para acompanhá-los ao longo do ano. Junto com o fisiculturista Marcelo Cruz e o coach Rainos Hayes, Italo desenvolve um plano que incluiu treinamento de força, resistência e técnicas específicas para cada competição. “Proteger os tornozelos, joelhos e a coluna é fundamental. E o treinamento de força ajuda nesse aspecto”, orienta Hayes.
A preparação também abrange a recuperação. Banheiras de gelo são uma prática comum para acelerar o processo de recuperação muscular. “O sono regulado é essencial, assim como a recuperação após os treinos e competições”, diz Pupo, ressaltando o equilíbrio entre a atividade física intensa e os cuidados com o corpo.
Preparação mental e técnica
Além do condicionamento físico, a preparação psicológica está se tornando um pilar importante. João Chianca, que treina com Gabriel Ferrão, mostra determinação e dedicação, sabendo que a habilidade de lidar com a pressão é crucial. O acompanhamento não se limita apenas ao treinamento físico; acompanhamentos online e o suporte emocional são vitais para a performance dos atletas.
Leandro Dora, treinador de Luana Silva, única brasileira no Championship Tour, explica que a elaboração de estratégias e a tomada de decisões na água são resultados de um planejamento cuidadoso. “Ela conta com o apoio da Confederação Brasileira de Surf e do Comitê Olímpico do Brasil, que ajudam tanto na parte física como na psicológica”, explica. Essa vantagem estrutural é cada vez mais comum entre os surfistas modernos.
Adaptação às diferentes condições de competição
Com o circuito mundial abrangendo uma variedade de destinos e condições, os surfistas precisam adaptar sua técnica a cada mar. “A etapa de Saquarema, por exemplo, é caracterizada por ondas rápidas e fortes, que exigem um ajuste na força, explosão e leitura de onda”, comenta Filipe Toledo, que possui quatro títulos na competição do local. Cada local oferece desafios únicos que demandam foco e resiliência.
Segundo Ferrão, o treinamento de Chianca em águas frias e com correntezas intensas foca em melhorar a resistência cardiorrespiratória e garantindo estabilidade. O aspecto mental desempenha um papel crucial; Pupo utiliza estratégias para transformar a pressão de competir em casa em energia positiva.
Para esses atletas, o surfe é mais do que um esporte; é uma profissão que requer comprometimento e uma preparação excecional em todos os aspectos. Com a crescente profissionalização do surfe, essa nova geração de atletas está pronta para levar o esporte a novos patamares.
