O futebol tem o poder de unir culturas e criar laços que transcendem fronteiras. Essa é a realidade entre o Brasil e o Japão, onde ícones como Zico, Hulk, Leonardo, Emerson Sheik e Dunga não são apenas lembrados como grandes jogadores, mas também como um elo fundamental que conecta torcedores brasileiros e nipônicos. Atualmente, o destaque entre os jogadores brasileiros na J.League vai para Matheus Sávio, ex-Flamengo, que se destacou como o melhor meia de 2024, acumulando nove gols e oito assistências em 42 jogos pelo Kashiwa Reysol.
Matheus Sávio e a nova geração no Japão
No início de 2025, Matheus Sávio transferiu-se para os Urawa Reds Diamonds, onde agora enfrenta a Inter de Milão no Mundial de Clubes. Após uma derrota na partida de estreia contra o River Plate, a expectativa é alta. A torcida japonesa, conhecida por sua paixão e apoio incondicional, teve um grande papel nesse contexto emocionante, inundando as arquibancadas do Lumen Field, em Seattle, de vermelho durante a primeira partida.
“O Urawa é uma grande equipe e tem a maior torcida do país”, afirmou Sávio. A grandeza do Urawa não é apenas medida por suas conquistas, mas pela devoção de seus torcedores, que representam uma parte fundamental da experiência do futebol no Japão.
Zico: O precursor da conexão
Zico é, sem dúvida, um dos nomes mais lembrados quando se fala sobre a relação entre Brasil e Japão no futebol. Reconhecido como “Deus” do futebol nipônico, Zico deixou um legado imensurável durante sua passagem pelo Sumitomo e Kashima Antlers, entre 1991 e 1994. A qualidade técnica que ele demonstrou em campo e seu papel como treinador da seleção japonesa entre 2002 e 2006 foram essenciais para estruturar e promover a liga japonesa de futebol.
A evolução do futebol japonês
A ida de grandes nomes brasileiros, como Zico, impactou significativamente o interesse pelo futebol no Japão. Desde os primórdios da liga, o país se dedicou a desenvolver várias modalidades esportivas, com um olhar atencioso para o futebol após a Olimpíada de 1964. O sucesso inicial da seleção japonesa, que chegou a vencer a Argentina na época, incentivou mais investimentos na modalidade, incluindo a criação de ligas amadoras com times de empresas.
Nelson Yoshimura, filho de imigrantes japoneses, foi um dos primeiros nipo-brasileiros a se destacar no futebol japonês, tornando-se um símbolo desse intercâmbio cultural. Com o tempo, o aumento de jogadores brasileiros no país se consolidou, levando a uma situação em que, atualmente, os brasileiros representam mais de 55% dos estrangeiros na liga.
Desafios e mudanças na liga
Apesar do sucesso, a liga japonesa passou por mudanças ao longo dos anos. Os clubes começaram a reduzir os investimentos em grandes estrelas e a buscar jogadores promissores. Um exemplo disso é Hulk, que, com apenas 18 anos, desembarcou no Kawasaki Frontale e se destacou antes de seguir para o Porto. Sua trajetória inicial no Japão, onde acumulou 111 jogos e 74 gols, exemplifica o potencial que os jogadores brasileiros têm de brilhar em cenários variados.
Washington, o ex-artilheiro do Brasileirão, também lembra de sua experiência no Japão como algo enriquecedor. “Foi a melhor escolha da minha carreira jogar no Japão. Só tive alegrias lá”, disse o jogador, ressaltando a admiração e respeito que os torcedores japoneses têm pelos atletas brasileiros.
A experiência cultural para os jogadores
Um dos aspectos mais intrigantes para os jogadores brasileiros que atuam no Japão é a diferença cultural de como se torce. Enquanto os torcedores brasileiros são conhecidos por sua paixão e, às vezes, exigência, no Japão a postura é mais respeitosa. Isso trouxe um certo estranhamento a Washington, que se surpreendeu com o apoio constante da torcida, mesmo em jogos perdidos.
“No primeiro ano, mesmo quando perdíamos, dávamos voltas agradecendo a torcida e eles aplaudiam. Eu pensava: ‘Não vão protestar?’”, comentou ele, refletindo sobre a reverência e o respeito que é parte integrante da cultura japonesa.
Embora o brilho dos grandes jogadores tenha diminuído na liga japonesa com o passar do tempo, a paixão pelos brasileiros permanece. Personalidades como Leandro Damião, que se destacou no Kawasaki Frontale, ganharam notoriedade, sendo até mesmo representados em bandeira da torcida, demonstrando a continuidade desse vínculo especial.
A torcida japonesa e a conexão com o Brasil
À medida que a ligação entre as torcidas japonesas e o futebol brasileiro se aprofunda, os clubes brasileiros, como o São Paulo, deixaram sua marca no Japão, reconhecidos pelo incrível desempenho e conquistas, especialmente no Mundial de 2005. É uma sensação compartilhada por muitos torcedores, como a japonesa Miyazawa Hiromi, que, incentivada pelo marido, começou a acompanhar o futebol e a se apaixonar pelo São Paulo.
Os torcedores mostram um respeito recíproco, reconhecendo a importância do futebol e seus ícones, independentemente de rivalidades. Esse fenômeno cultural reafirma que o futebol não é apenas um jogo, mas uma ponte que liga pessoas e celebra as diferenças de suas culturas.
Com a chegada de Matheus Sávio ao Urawa e os olhares voltados para o desempenho da equipe no Mundial, a paixão e a conexão entre os torcedores continuam a crescer. No Japão, o vermelho das arquibancadas pode muito bem ser o protagonista neste grande embate.
Enquanto o Urawa Reds Diamonds se prepara para enfrentar a Inter de Milão, a expectativa é alta. O simbolismo de se manter forte na disputa e a força de sua torcida poderá desencadear surpresas no campeonato. O desejo é que a evolução do futebol japonês não apenas mostre seu valor no cenário global, mas que também continue a nutrir uma rica relação com o Brasil.