Na última sexta-feira (20), a Câmara dos Comuns do Parlamento britânico aprovou, por uma margem estreita de 315 a 291 votos, um projeto de lei que legaliza o suicídio assistido para pacientes com doenças terminais em Inglaterra e País de Gales. A medida agora depende da aprovação na Câmara dos Lordes, onde há maior chance de alteração, mas a expectativa é de que o projeto seja promulgado.
Reação da Igreja Católica ao projeto de suicídio assistido
O arcebispo John Sherrington, de Liverpool e principal representante da Igreja Católica na Inglaterra e País de Gales na defesa da vida, manifestou-se “chocado e decepcionado” com a aprovação do projeto na Câmara dos Comuns. Em nota oficial, ele alertou que permitir que profissionais de saúde auxiliem pacientes a terminar suas vidas poderá transformar a cultura de assistência médica, gerando preocupações legítimas especialmente entre pessoas com deficiências ou vulnerabilidades.
Sherrington destacou ainda que “a vocação de cuidar está no coração das muitas pessoas que dedicam suas vidas a cuidar dos seus entes queridos”, reforçando a visão da Igreja de que a compaixão deve caminhar juntas com a melhoria dos cuidados paliativos. Para ele, investir na qualidade e na acessibilidade desses tratamentos oferece uma alternativa mais digna para o fim da vida, e a Igreja continuará defendendo essa causa.
Contexto e debates em torno da legislação
A proposta prevê que pacientes maiores de 18 anos, com diagnóstico de doença terminal há no máximo seis meses, possam solicitar ajuda para morrer, mediante avaliação e aprovação de dois médicos e de um painel composto por um assistente social, um jurista de destaque e um psiquiatra. A pessoa deve ser responsável por administrar a droga letal de forma autônoma.
Segundo Sherrington, a ausência de “proteções explícitas” poderá obrigar instituições católicas, como hospícios e casas de hospice, a colaborarem com a prática de suicídio assistido, colocando sua existência sob ameaça. “Se isso acontecer, o futuro de muitas instituições católicas poderá estar em risco”, alertou.
Posição da Igreja e o combate à cultura da vida
Enquanto defensores argumentam que a legislação é uma forma de aliviar o sofrimento, a Igreja mantém sua postura de promover uma cultura da vida e do cuidado compassivo. Arcebispos ressaltam que a melhoria na assistência paliativa é o caminho mais eficaz para reduzir o sofrimento ao final da vida, e pedem à comunidade católica que apoie quem se dedica a cuidar dos doentes em hospitais, clínicas e lares de idosos.
Outros temas relacionados e o futuro do projeto
Recentemente, o Parlamento também avançou na despenalização do aborto em Inglaterra e País de Gales, medida que a Igreja Católica e outros grupos religiosos criticaram duramente, considerando um risco à dignidade da vida desde a concepção. A Igreja reafirmou seu compromisso de defender a vida em todas as etapas, mesmo diante de políticas que visam ampliar opções de final de vida.
Sherrington conclui pedindo orações pelo Parlamento e pela proteção da vida, lembrando que o processo ainda não está terminado. “Devemos perseverar na esperança e na busca por uma sociedade que valorize a dignidade de cada pessoa, do nascimento até a morte natural”, afirmou.