Durante a Guerra Fria, nos anos 1950, o governo dos EUA conduziu a chamada Lavender Scare, uma campanha que perseguiu, expôs e expulsou gays e lésbicas dos setores público e militar, baseado em ameaças morais e de segurança nacional. Essa fase histórica deixou marcas profundas na cultura e na política americanas, refletindo uma longa trajetória de exclusão e preconceito contra a comunidade LGBTQ+.
Origens e motivos da Lavender Scare
A Lavender Scare surgiu em paralelo ao Red Scare, movimento anticomunista liderado por figuras como Joseph McCarthy. Contudo, enquanto a campanha contra o comunismo focava na ideologia, a perseguição aos LGBTQ+ tinha bases ideológicas distintas. Um memorando do Departamento de Estado de 1950 relacionava a homossexualidade ao declínio de grandes civilizações antigas, argumentando que os EUA precisavam eliminar esses indivíduos para sobreviver na guerra fria. Segundo o documento, a tolerância à homossexualidade ameaçava a segurança do país.
Perseguição e consequências
Na mesma época, representantes do governo, como o diplomata John Peurifoy, afirmaram que gays e lésbicas representavam uma ameaça à segurança dos Estados Unidos. Publicações e políticos reforçaram essa narrativa, alegando que comunistas poderiam usar pessoas LGBTQ+ para fins de chantagem ou traição. Essas acusações, porém, nunca foram apoiadas por evidências concretas, mas alimentaram uma onda de medo e discriminação.
Em 1953, o presidente Dwight D. Eisenhower assinou a Ordem Executiva 10450, que classificou a “perversão sexual” como risco à segurança. A medida possibilitou investigações invasivas, vigilância e demissões em massa que afetaram aproximadamente 7.000 a 10.000 pessoas, destruindo carreiras e vidas. A repressão foi ampliada para além do setor federal, atingindo empresas, jornais, bibliotecas e espaços públicos, que passaram a perseguir e criminalizar a comunidade LGBTQ+.
Legado e impacto na sociedade
Além das ações governamentais, a discriminação legalizada levou à exclusão social e à desumanização de pessoas LGBTQ+. De jornais publicando nomes e endereços de indivíduos presos por atos consensuais a casos de suicídio motivados pelo estigma, a era da Lavender Scare perpetuou uma cultura de medo e intolerância que ainda reverbera na atualidade.
Reflexos na atualidade
Nos últimos anos, ações do governo americano vêm sinalizando um retorno a práticas de exclusão e repressão, como a reinstauração de restrições às pessoas trans no serviço militar ou a tentativa de limitar o reconhecimento de identidades de gênero. Segundo dados do Gallup, o apoio à união entre pessoas do mesmo sexo caiu de 55% para 41% entre 2022 e 2025, demonstrando que a luta pela inclusão continua em um país marcado por um passado de segregação.
Perspectivas futuras
Especialistas argumentam que o reconhecimento do passado da Lavender Scare é fundamental para compreender os desafios atuais da comunidade LGBTQ+ nos EUA e impulsionar políticas de reparação e inclusão mais efetivas. O combate ao preconceito precisa ser contínuo para evitar que episódios de intolerância se repitam e que direitos conquistados sejam revertidos.