Após o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros para 15% ao ano nesta quarta-feira — o maior nível desde 2006 — a tendência é o dólar recuar ainda mais, o que deve contribuir para uma inflação menor neste ano. A valorização do real, impulsionada pelo diferencial de juros, já reflete nos índices de preços e estimula projeções de IPCA abaixo de 5% para 2025.
Impacto da alta da Selic na economia e na inflação
Com a sétima elevação consecutiva dos juros, o Banco Central reforçou a intenção de conter a inflação, que já mostra sinais de desaceleração. Segundo fontes do mercado, a valorização do real frente ao dólar, que caiu 12% este ano, ajuda a aliviar preços de alimentos, combustíveis e produtos importados, o que deve puxar a inflação para uma taxa menor do que as projeções anteriores.
A estimativa do IBGE aponta que o IPCA deve encerrar o ano em cerca de 5,25%, abaixo do teto da meta de 4,5%, algo que especialistas acreditam ser possível devido à combinação da valorização cambial e à desaceleração dos preços internos. O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, aposta que o índice ficará próximo de 4,8% em 2025, citando a influência da queda do dólar no IPCA de maio.
Mercado cambial e pressões externas
O dólar, que chegou a R$ 6,30 em janeiro, fechou na última semana em R$ 5,49, uma redução significativa que reflete o aumento das taxas de juros e a entrada de capitais estrangeiros no país. Essa entrada de recursos ajuda a fortalecer o real e reduzir custos de bens industriais e alimentícios importados, como trigo e leite em pó, contribuindo para a contenção da inflação.
Segundo o economista Fábio Romão, da LCA 4Intelligence, o cenário externo ainda favorece essa tendência, apesar de conflitos geopolíticos, como o do Oriente Médio, que podem impactar o preço do petróleo. A expectativa é de que o dólar volte a subir até o final do ano, fechando o período em torno de R$ 5,80, devido a turbulências internacionais e ao aumento da inflação de serviços.
Perspectivas para a economia brasileira
Os efeitos das altas de juros também se refletem na desaceleração do consumo, especialmente de bens com alta sensibilidade ao câmbio, como automóveis, eletroeletrônicos e produtos importados. No entanto, o crescimento econômico ainda demonstra resiliência, sustentado por safras recordes de commodities, aumento das exportações e início de uma gradual redução na inflação de serviços.
Para o mercado, a manutenção da política de juros elevados mantém o real valorizado e ajuda a controlar a inflação, mas gera preocupação com o impacto na atividade econômica. Ainda assim, analistas apontam que o ciclo de alta de juros deve terminar em breve, com uma possível redução em meados de 2026, após sinais mais claros de deflação na economia.
Desafios e próximos passos
O Banco Central afirmou que continuará monitorando de perto o comportamento dos preços e o mercado de trabalho. Apesar das pressões por uma eventual redução dos juros, o foco permanece na contenção da inflação, especialmente a de serviços, que deve fechar o ano em 6,2%, segundo projeções do mercado.
Assim, a trajetória de juros e câmbio seguirá sendo articulada conforme o cenário externo e interno evoluir, com o BC aguardando dados mais consistentes antes de iniciar o ciclo de redução da taxa básica.
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