No dia 19 de junho, celebramos a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, um momento de reflexão profunda sobre o significado da Eucaristia. Em um artigo assinado pelo Pe. Maicon Malarcena, a data é marcada como um grande convite para que cada um de nós se torne alimento, pão repartido, e vida doada aos outros. O sacerdote destaca que o esplendor das procissões e a suntuosidade dos ostensórios não devem ofuscar a mensagem central de Jesus: “aquele que me recebe como alimento viverá por causa de mim”. Este convite exige que nos tornemos aquilo que consumimos.
A importância da Eucaristia na vida cristã
Na reflexão do Pe. Malarcena, a Eucaristia se revela como um dom crucial, que nos convida a sair de nós mesmos. “Minhas carne dada para a vida do mundo”, conforme diz o Evangelho de João (Jo 6,51-58), nos faz lembrar que não se trata apenas de um ritual, mas de uma entrega verdadeira e sincera. Em cada celebração, Jesus nos convida a tomarmos parte de sua missão, a partilhar com os irmãos e irmãs, e a fazer da nossa vida um contínuo ato de amor.
Na Eucaristia, somos chamados a nos reconhecer como “filhos”, assumindo nossa verdadeira identidade. Esta identidade nos transforma em seres eucarísticos, capacitando-nos a transformar nossas ações e palavras em gestos de amor e fraternidade. Pe. Malarcena enfatiza que a missa não deve ser reduzida a uma obrigação ou mera exterioridade. Pelo contrário, deve nos conduzir em uma peregrinação rumo a uma vida cheia de amor e compaixão: “quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”.
O mistério da Igreja como consequência da Eucaristia
A Igreja é vista como a comunidade que se forma ao redor de Jesus, e isso também é uma consequência da Eucaristia. O teólogo Tonino Bello expressou bem essa relação ao afirmar que “o primeiro broto a surgir na árvore da Trindade é a Eucaristia”, sugerindo que a Igreja é o fruto maduro desse sacramento, florescendo da partilha e do amor. Esta afirmação nos lembra que, assim como a Eucaristia deve agir em nosso interior, igualmente devemos levar essa vivência para fora, em gestos concretos de solidariedade e amor ao próximo.
Um convite à transformação pessoal e coletiva
A solenidade de Corpus Christi, portanto, não é apenas uma celebração religiosa, mas um apelo à transformação pessoal e coletiva. É uma convocação para que cada um se torne um pão repartido, uma fonte de vida e amor. Nós somos chamados a viver esta realidade não apenas em momentos de celebração, mas no dia a dia, em nossas relações e interações comunitárias.
O convite à doação é central na mensagem de Jesus e deve nos inspirar a agir em conformidade com seus ensinamentos. Quando nos tornamos “alimento” para os outros, começamos a refletir o amor incondicional de Cristo em nossas vidas. Ao invés de focar apenas no aspecto exterior da celebração, é essencial penetrar no significado profundo da Eucaristia e permitir que ela nos transforme de dentro para fora.
Em conclusão, a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo nos coloca frente a uma escolha: continuar a viver para nós mesmos ou nos tornar instrumentos do amor de Deus no mundo. Que possamos, então, acolher o convite de Jesus a nos tornarmos alimento, repartindo nossas vidas e fazendo do mundo um lugar mais fraterno e acolhedor.
* Pe. Maicon André Malacarne é professor de Teologia Moral e pároco da Paróquia São Cristóvão – diocese de Erexim/RS