Após anos de luta e busca por justiça, a família do jornalista Vladimir Herzog receberá uma indenização de aproximadamente R$ 3 milhões, conforme acordado com a Advocacia-Geral da União (AGU). O acordo judicial foi estabelecido em um processo movido pelos familiares contra a União, resgatando a memória de um dos episódios mais sombrios da história brasileira durante a ditadura militar.
Quem foi Vladimir Herzog
Vladimir Herzog destaca-se como uma figura emblemática da luta pela liberdade de expressão e pelos direitos humanos no Brasil. Nascido em 1937, Herzog foi um respeitado jornalista e professor universitário, atuando em veículos de renome como o jornal O Estado de S. Paulo e a TV Cultura. Ao longo de sua carreira, defendeu veementemente a democracia e criticou abertamente o regime militar instaurado em 1964, o que o tornou alvo de perseguições.
No dia 25 de outubro de 1975, Herzog foi preso e assassinado nas dependências do DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura. Embora o governo da época tenha propagado a versão de um suicídio, a verdade sobre suas circunstâncias de morte foi revelada mais tarde, gerando uma comoção nacional e internacional. Sua morte se tornou um símbolo na luta pela redemocratização do Brasil, além de ressoar até os dias atuais como um aviso contra a repressão à liberdade de imprensa.
Acordo e reparação
O acordo firmado pela AGU, que culminou na indenização, foi concluído em menos de cinco meses após a abertura do processo. Além dos R$ 3 milhões destinados a danos morais, a União também se comprometeu a pagar valores retroativos como reparação econômica em prestações mensais. Em decisão anterior, a Justiça já havia determinado um pagamento vitalício mensal de R$ 34.577,89 para Clarice Herzog, viúva de Vladimir, estabelecendo assim um suporte financeiro à sua família.
“A reparação à família de Vladimir Herzog, além de promover justiça em relação a um dos episódios mais lamentáveis do período, demonstra a disposição do governo federal em avançar na promoção dos direitos humanos, da memória e da verdade histórica”, declarou Jorge Messias, advogado-geral da União.
Esse esforço de reparação não se limita apenas ao valor monetário, mas traz consigo um simbolismo profundo. A procuradora-geral da União, Clarice Calixto, enfatizou que o acordo representa a capacidade de outrora da nação de se indignar com as atrocidades cometidas no passado. “Quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades praticadas contra outros, já não podemos nos considerar seres humanos civilizados”, ressaltou, citando uma frase de Herzog que ecoa até hoje.
Cerimônia de homenagem
O próximo passo para formalizar o acordo será a homologação pela Justiça Federal. Para marcar a significância desse momento, está prevista uma cerimônia simbólica no Instituto Vladimir Herzog (IVH) em São Paulo, no dia 26 de junho, véspera do aniversário de 88 anos do jornalista. A solenidade contará com a presença de Jorge Messias, familiares de Herzog e convidados, e se tornará um momento de reflexão sobre a história e a memória que envolvem a luta por direitos humanos no Brasil.
Outubro deste ano também será um marco, pois irá completar 50 anos da morte de Vladimir Herzog, um momento em que sua trajetória e legado serão mais uma vez lembrados e celebrados por aqueles que defendem a verdade e a justiça.
A luta pela memória e justiça continua, e o acordo alcançado com a família de Vladimir Herzog representa não apenas uma reparação financeira, mas uma reafirmação do compromisso do Estado com os direitos humanos e a transparência histórica.
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