Brasil, 19 de junho de 2025
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Abin paralela monitorou bispos críticos ao governo Bolsonaro

Relatório da PF revela que a Abin coletou informações sobre religiosos que criticaram o governo anterior.

Uma nova revelação sobre a atuação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante o governo de Jair Bolsonaro traz à tona o monitoramento de bispos da Igreja Católica que se manifestaram criticamente contra a administração. De acordo com mensagens interceptadas pela Polícia Federal (PF), o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) solicitou um levantamento detalhado sobre esses religiosos, que culminou em um inquérito que já gera repercussões no cenário político.

Relatório revela ações da Abin

O relatório final da investigação sobre o que ficou conhecido como “Abin Paralela” foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e indica que os recursos da agência foram utilizados em resposta a um manifesto assinado por 152 bispos. Esta carta, divulgada em julho de 2020, expressava a preocupação da Igreja Católica com a situação do país, que enfrentava uma severa crise de saúde e economia, além de tensões políticas.

“O emprego de recursos humanos, tecnológicos e financeiros da agência se deu em razão de manifesto da Igreja Católica assinado por 152 (cento e cinquenta e dois) Bispos”, afirma o documento analisado pelos investigadores da PF. A carta, considerada um importante posicionamento institucional da Igreja, criticava o governo por priorizar “uma economia que mata” e não focar na “pessoa humana e o bem de todos”.

O início da investigação

A investigação teve início após o jornal O Globo revelar, em março de 2023, que a Abin havia adquirido um sistema espião para monitorar a localização de pessoas em todo o Brasil. Esta prática, que levanta sérias questões sobre a legalidade e a ética das ações do governo, se tornou um dos tópicos principais de debate público e judicial.

O manifesto dos bispos, além de mencionar a crise econômica e de saúde provocada pela pandemia, também criticava a postura do presidente Jair Bolsonaro, que, segundo o documento, agravava a situação ao defender interesses econômicos em detrimento da saúde e bem-estar da população. A carta foi lida como um chamado à reflexão sobre a postura governamental em tempos de crise.

O impacto na Igreja e na política

Entre os signatários do manifesto estavam dom Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, falecido em 2022, e dom Leonardo Ulrich, ex-arcebispo de Manaus, que se tornou cardeal. As falas de líderes religiosos, especialmente em tempos de crise, têm um forte impacto na sociedade brasileira, que possui uma longa tradição de respeito e influência da Igreja Católica nas questões sociais e políticas.

O fato de a Abin ter se direcionado especificamente para monitorar essas figuras releva não apenas uma possibilidade de abuso de poder, mas também uma inquietante tentativa de silenciar críticas ou desconstruir figuras que se opõem ao governo. O teor do relatório da PF deverá ser amplamente analisado por especialistas em direito e ética, uma vez que suscitou questões sobre os limites da atuação das agências de inteligência no Brasil.

Consequências e desdobramentos

A validação de que a Abin empregou recursos para monitorar líderes religiosos baseados em suas opiniões políticas oferece um novo capítulo em um governo já marcado por polêmicas e processos judiciais. O público aguarda as próximas etapas, uma vez que a situação demanda uma resposta não apenas dos órgãos governamentais, mas também da sociedade civil que reivindica direitos e garantias básicas de privacidade e liberdade de expressão.

O desfecho da investigação da Abin Paralela pode influenciar o clima político no Brasil, reforçando a urgência de uma discussão sobre os limites das práticas de vigilância e a necessidade de proteção contra abusos de poder. O impacto das vozes da Igreja Católica, especialmente quando unidas em protesto, não deve ser subestimado e poderá servir como um catalisador para futuras mudanças no cenário político brasileiro.

À medida que o debate avança, a população se pergunta: até que ponto é aceitável o monitoramento do estado sobre aqueles que exercem seu direito à crítica? A resposta a essa questão pode muito bem moldar o futuro da política e da liberdade religiosa no Brasil.

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