Na Europa, milhares de moradores têm se mobilizado para denunciar os efeitos negativos do overtourism, especialmente em cidades como Barcelona, Lisboa e Veneza. Os protestos fazem parte de um movimento crescente contra o impacto desproporcional do turismo massivo na vida local.
Manifestantes desafiam o turismo excessivo em Barcelona
No último sábado (15), moradores de Barcelona marcharam pelas ruas carregando pistolas de água, queerendo simbolicamente apagar os pontos turísticos cheios de visitantes. Com faixas que diziam “o turismo de massa mata a cidade” e gritos de “sua viagem, minha dor”, eles apontaram a transformação da cidade, que tem suas residências convertidas em imóveis para aluguel temporário.
Segundo uma residente de 80 anos, que concedeu entrevista à BBC, ela foi despejada de seu apartamento na região popular de El Raval, após quase uma década morando lá. “O aluguel subiu 70% e acredito que a razão foi transformá-lo em um local para turistas,” afirmou. O fenômeno é recorrente, agravando o aumento da inflação dos preços de moradia na cidade, que recebeu cerca de 26 milhões de turistas em 2024, em uma população de 1,6 milhão.
O lado ambivalente do turismo na Espanha
Um comentário na plataforma Reddit destacou a dualidade da atividade: “O turismo é uma bênção e uma maldição para Espanha”. Apesar de gerar bilhões de euros e criar milhares de empregos, a preferência por essa atividade prejudica outros setores econômicos e provoca uma crise de identidade nas cidades históricas.
Outro usuário observou que, futuramente, o centro de Barcelona poderá se transformar em um “parque temático”, dominado por interesses turísticos e negócios de imigrantes que vendem produtos falsificados e comida barata, deixando de ser uma cidade viva e autêntica.
Protestos se espalham pelo sul da Europa
Além de Barcelona, protestos contra o overshooturismo aconteceram em diversas regiões do sul da Europa, incluindo Portugal e Itália. Os moradores reclamam que a sobrecapacidade turística atinge especialmente as temporadas de alta demanda, prejudicando residentes e negócios locais.
“Não somos contra o turismo, mas queremos um fluxo mais controlado”, declarou um manifestante em Lisboa, destacando a necessidade de soluções sustentáveis.
Impactos na cultura e no patrimônio
Na França, o Museu do Louvre interrompeu suas atividades após uma greve de funcionários que alegam não conseguir controlar a multidão de 8,7 milhões de visitantes anuais, quase três vezes sua capacidade. Os funcionários denunciaram condições de trabalho ‘quase insuportáveis’, incluindo pouca pausa para descanso e aumento do calor dentro do museu.
As imagens de filas intermináveis e o desgaste do patrimônio cultural reacenderam o debate sobre os limites do turismo de massa, que ameaça a preservação e a autenticidade das cidades históricas europeias.
Respostas governamentais e busca por soluções
Recentemente, o governo da Espanha anunciou a retirada de cerca de 66 mil anúncios de aluguel temporário no Airbnb, visando conter a especulação imobiliária e a fuga de moradores de bairros tradicionais. Em 2025, também houve uma grande mobilização na França e Portugal para regular atividades turísticas e proteger comunidades locais.
Especialistas alertam que o desafio é encontrar um equilíbrio. “O objetivo não é acabar com o turismo, mas implementar práticas mais sustentáveis que beneficiem moradores e visitantes,” diz o especialista em turismo sustentável, Rafael Costa. “A crise exige inovação e responsabilidade para garantir que o crescimento seja compatível com a preservação cultural e o bem-estar social.”
Perspectivas futuras
Enquanto isso, muitos recomendam aos viajantes evitarem áreas superlotadas até que novas políticas sejam adotadas. Uma alternativa é explorar alternativas digitais, como o uso de Google Earth, para apreciar a beleza de cidades como Barcelona sem prejudicar suas comunidades.
A discussão sobre o overtourism continuará em alta na Europa, enquanto governos, empresas e moradores buscam meios de transformar o turismo em uma atividade sustentável e benéfica a todos.