Brasil, 18 de junho de 2025
BroadCast DO POVO. Serviço de notícias para veículos de comunicação com disponibilzação de conteúdo.
Publicidade
Publicidade

Campanhas de crowdfunding racistas geram preocupação nos EUA

A arrecadação de fundos para Shiloh Hendrix, que usou um termo racista, levanta questões sobre a normalização do apoio ao racismo.

No dia 28 de abril, Shiloh Hendrix, uma mulher branca residente em Rochester, Minnesota, tornou-se um assunto viral após admitir em um vídeo que chamou uma criança negra de 5 anos pelo termo N. Apesar de enfrentar uma onda de condenação pública, sua campanha de arrecadação de fundos no site GiveSendGo ultrapassou US$ 750.000, suscitando preocupações sobre o apoio ao racismo nos Estados Unidos.

O financiamento de atitudes racistas

A arrecadação de fundos de Hendrix, que foi criada com a intenção de proteger sua família diante da repercussão negativa, chamou a atenção da Liga Anti-Difamação (ADL), que denunciou a campanha por ser usada para “propagar discursos de ódio e legitimar suas ideias”. Em menos de um mês, mais de 30.000 pessoas contribuíram, em muitos casos utilizando termos racistas e símbolos nazistas como nomes nas doações.

O caso de Hendrix não é isolado. Outros brancos que cometeram atos racistas também receberam suporte financeiro significativo. Daniel Penny, um veterano branco que matou Jordan Neely, um homem negro que estava em situação de rua, no metrô de Nova York, arrecadou mais de US$ 3,3 milhões em uma campanha semelhante. Iniciativas semelhantes também foram iniciadas para Kyle Rittenhouse, que matou dois manifestantes durante um protesto em Kenosha, Wisconsin, em 2020.

A normalização do racismo

Segundo especialistas, a forma como a arrecadação de fundos para Hendrix ocorreu é preocupante, pois marca um aumento do apoio público a atos racistas. “Esse caso se destaca devido ao horroroso e vil insulto que está sendo defendido”, afirmou Brian Levin, diretor do Centro de Estudo do Ódio e Extremismo da Universidade Estadual da Califórnia, em San Bernardino. Para Levin, o que se observa é um crescente apoio às visões racistas que antes eram mais ocultas.

Dados da ADL revelam que entre 2016 e 2022, grupos e indivíduos que apoiam a supremacia branca e outras ideologias extremistas geraram mais de US$ 6 milhões em campanhas de arrecadação, principalmente através do GiveSendGo. O site, que se apresenta como uma plataforma de caridade, tem sido utilizado para reunir fundos para causas extremistas.

Impacto das eleições e do discurso político

Jennifer Chudy, professora assistente de ciência política, analisa que as eleições de Donald Trump mudaram o tom das conversas sobre racismo e contribuíram para um ambiente onde comportamentos e atitudes racistas foram normalizados. “A eleição de Trump deu força a pessoas que antes eram silenciosamente simpáticas a essas ideias. O que estamos vendo agora é um aumento do apoio aberto e tangível a tais visões”, detalhou Chudy.

O apoio à campanha de Hendrix também apresenta uma resposta direta a uma campanha de arrecadação para Karmelo Anthony, um adolescente negro acusado de matar um rival branco em uma competição. Brancos supremacistas incentivaram doações à campanha de Hendrix como forma de protesto ao apoio recebido por Anthony.

Um fenômeno preocupante

Mark Dwyer, investigador da ADL, diz que a arrecadação de fundos para Hendrix representa uma “anomalia” no sentido de que foi oriunda de um pequeno grupo de usuários na plataforma X, conhecidos por espalhar retóricas racistas. “A arrecadação de recursos para Hendrix é uma nova forma de mobilização para aqueles que podem não se identificar como supremacistas, mas que não veem problema em suas ações”, observou Dwyer.

Os recentes acontecimentos demonstram uma clara mudança na reação pública aos atos racistas. Durante o movimento Black Lives Matter, muitos brancos começaram a confrontar comportamentos problemáticos. Porém, após a ascensão de figuras como Trump, muitos que antes apoiavam a justiça racial agora reduziram seu envolvimento. “É como se agora pensassem que já discutiram essas questões o suficiente e não há mais razão para se preocupar”, comentou Chudy.

As implicações do apoio ao racismo

Com as novas realidades políticas e as reações de grupos como a ADL, o fortalecimento de campanhas de crowdfunding para figuras racistas pode se tornar normal. Dwyer antevê que, com a circulação de ideias racistas ganhando força, as iniciativas como a de Hendrix podem se repetir no futuro, promovendo a divisão e o apoio ao racismo em uma sociedade cada vez mais polarizada.

A questão se desdobrará nas próximas eleições e em como as plataformas de arrecadação de fundos abordarão o apoio a indivíduos cujas ações e crenças são abertamente racistas. “Estamos vendo um momento de empoderamento para os supremacistas brancos. Isso aumenta a probabilidade de algo assim acontecer novamente”, concluiu Dwyer.

Em suma, o caso de Shiloh Hendrix é um reflexo preocupante de como a sociedade está reagindo a comportamentos racistas de forma diferente, o que pode ter efeitos duradouros na dinâmica social e política dos Estados Unidos.

PUBLICIDADE

Institucional

Anunciantes